Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

05 julho, 2011

Nada entre nós tem o nome da pressa, conhecemo-nos assim, devagar

Já nos conhecemos? Ainda somos desconhecidos?

Não sei, mas penso que não temos pressa, os labirintos da vida trouxeram-nos até aqui, ao lugar das palavras.

Gostava de poder dizer que às vezes nos sentamos neste banco, devagar, a olhar os mesmos barcos, o mesmo rio, o tempo que se vai desenhando assim, desfasado. Mas não é verdade, pois não? Isso não temos.

Mas deixa, aproveitemos o que a vida nos deu. Palavras. Um imenso mar de palavras. Esperemos que palavras sempre sem mácula, sem enganos.

 
Há pouco, ao cair do dia, depois de um dia de afazeres, casal senta-se num banco junto aos barcos, de frente para o Tejo, e os dois aconchegam-se um no outro, de frente para Lisboa

Nada entre nós tem o nome da pressa.
Conhecemo-nos assim, devagar, o cuidado
traçou os seus próprios labirintos. Sobre a pele
é sempre a primeira vez que os gestos acontecem. Porém,

se se abrir uma porta para o verão, vemos as mesmas coisas -
o que fica para além da planície e da falésia; a ilha,
um rebanho, um barco à espera de partir, uma palavra
que nunca escreveremos. Entre nós

o tempo desenha-se assim, devagar.

Daríamos sempre pelo mais pequeno engano.


(Poema de Maria do Rosário Pedreira in 'A Casa e o cheiro dos Livros' um belo livro com um belo nome)

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