Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

02 junho, 2011

Quando de noite as tuas mãos são o meu único vestido

Tempos houve em que, meu amor, as tuas mãos eram o meu único vestido.

Mas essas vestes há muito tempo que se desfizeram.

E, enquanto te espero, eu teço e desteço, dias sem fim, a teia de pudor e de amor com que nos dias de amor me vestias e despias.

No Ginjal, há pouco, ao fim do dia, uma veste desfeita, uma teia sem sentido

Mais do que um sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.


('Penélope' de David Mourão-Ferrreira in 'A arte de amar')

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