Tempos houve em que, meu amor, as tuas mãos eram o meu único vestido.
Mas essas vestes há muito tempo que se desfizeram.
E, enquanto te espero, eu teço e desteço, dias sem fim, a teia de pudor e de amor com que nos dias de amor me vestias e despias.
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No Ginjal, há pouco, ao fim do dia, uma veste desfeita, uma teia sem sentido |
Mais do que um sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.
E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.
Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.
('Penélope' de David Mourão-Ferrreira in 'A arte de amar')
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