Uma mulher desconhecida olha longamente as palavras que alguém desconhecido escreve no vento.
Uma mulher desconhecida, sem nome, nos curtos espaços da manhã, nas distantes e quentes noites, pergunta-se tantas vezes quem é aquele outro que percorre florestas, longas estações, sem conseguir esquecer feridas irreparáveis de um doce amor.
Há dois dias, ao entardecer, junto ao Farol de Cacilhas, o Tejo em fundo. |
É muito bela esta mulher desconhecida
que me olha longamente
e repetidas vezes se interessa
pelo meu nome
eu não sei
mas nos curtos instantes de uma manhã
ela percorreu ásperas florestas
estações mais longas que as nossas
a imposição temível do que
desaparece
e se pergunta tantas vezes o meu nome
é porque no corpo que pensa
aquela luta arcaica, desmedida se cravou:
um esquecimento magnífico
repara a ferida irreparável
do doce amor
('A mulher desconhecida' de José Tolentino de Mendonça in "A noite abre meus olhos", poesia reunida, Assírio & Alvim)
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