Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

16 dezembro, 2010

Deixa-te estar na minha vida como um navio sobre o mar

Neste dia o sol não beijava o mar, neste dia Iemanjá não cobria o Tejo com as suas flores brancas.

Neste dia, apenas um navio atravessava o mar. O vento soprava gélido, havia bruma e espuma.

Não te vás.

Deixa-te estar na minha vida.

Como aquele navio sobre o mar.

(Fantástico navio que rasgou o Tejo a encarnado num dia especialmente cinzento, o Ginjal envolto em bruma, Lisboa coberta de tristeza)

Deixa-te estar na minha vida
como um navio sobre o mar.

Se o vento sopra e rasga as velas
e a noite é gélida e comprida
e a voz ecoa das procelas,
deixa-te estar na minha vida.

Se erguem as ondas mãos de espuma
aos céus, em cólera incontida,
e o ar se tolda e cresce a bruma,
deixa-te estar na minha vida.

À praia, um dia, erma e esquecida,
hei, com amor, de te levar.
Deixa-te estar na minha vida.
Como um navio sobre o mar.


(Cantiga de Cabral do Nascimento)

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