Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

05 dezembro, 2010

Abro as varandas altas da manhã: o teu rosto é essa estrela sobre o mar, oh meu amor

Há quem diga que às vezes se vive numa quase mentira, acabando por nem dar conta do que se sente.

(Há quem diga que mais vale estar sozinha toda a vida do que ter um coração que mente.)

Assim, longe de ti, vivo a desenhar o teu rosto no sal dos mares por que ando, recordando o teu fogo no leito enquanto navego contra a corrente.

Vou de cais em cais, sozinha mas vivendo em ti, lembrando a curva dos teus braços, meu amor.

Eu sei que já devia ter havido uma longa despedida. Mas prefiro imaginar que uma estrela sobre o mar me indicará o caminho de regresso até ti.

Meu amor.

(O Queen Elizabeth 2, também conhecido por QE2, acostado em Lisboa, Alcântara-Mar, ontem visto do Ginjal, numa manhã gelada que soprava com força as velas dos pequenos e corajosos veleiros que desafiavam em valentia o enorme e luxuoso cruzeiro)

Abro as varandas altas da manhã:
o teu rosto é essa estrela sobre o mar.
Oh meu amor eu vivo a desenhar
o teu rosto de sal na praia vã.

De ti conheço um sopro, o naufragar
de um barco altivo por marés desfeito
e ando de porto em porto a recordar
a costa de ouro e fogo do teu leito.

Já te perdi de bússola e de norte
no caminho magnético dos astros
por tanto navegar contra a corrente.

Mas ao sabor a cor da minha morte
eu vivo em ti, na curva dos teus braços
com um deserto de fogo à minha frente.

(Uma longa despedida de José Carlos González)

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