Trago comigo as palavras que nem sempre digo, trago comigo o teu olhar longo pousado em mim.
Visto-me e aconchego a mim a blusa, guardando por dentro, rente à pele, os teus afagos mais secretos.
Visto-me e ajeito a saia e dentro de mim guardo o amor que um dia me ofereceste, e que, passados tantos anos, continuas a oferecer-me, sem palavras.
Por isso nunca nos dizemos adeus.
No Ginjal, ao por-do-sol, mulher passeia, quase parece uma boneca |
Vestes-te como quem tapa um segredo
e desces a escada, para a despedida
não há palavras, ou não sobraram
Contigo, escada abaixo, vão adeuses
por dizer, ternura envergonhada, mudos
agradecimentos e ainda alguns restos
de humores trocados no entre-pernas
O que tu digas ou eu diga pouco importa
Que os corpos se lembrem - isso é tudo
Que tenham esquecido ou venham
a esquecer - tudo é também
(Belo poema, belos e maduros poemas estes de Rui Caeiro in 'Quarto Azul e outros poemas')
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