Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

30 junho, 2011

Se eu definisse o tempo como um rio, a comparação levar-me-ia a tirar-te de dentro da sua casa


Sento-me à beira do rio e o tempo suspende-se.

Leio um livro e, quando chego ao fim, o relógio da beira do cais, marca as mesmas horas que quando comecei.

Subo as escadas que vêm do rio e me levam até um sítio suspenso no tempo.

Tu sentas-te comigo, pedes-me que leia para ti, e ficamos os dois, aqui, neste local perfeito em que o rio nos envolve e em que tempo pára para nós.

No Ginjal, sobre o Tejo, e com Lisboa logo ali, mulher pescadora

Se eu definisse o tempo como um rio,
a comparação levar-me-ia a tirar-te
de dentro da sua água, e a inventar-te
uma casa. Poria uma escada encostada
à parede, e sentar-te-ias num dos seus
degraus, lendo o livro da vida. Dir-te-ia:
«Não te apresses: também a água deste
rio é vagarosa, como o tempo que os
teus dedos suspendem, antes de virar
cada página.» Passam as nuvens no céu;
nascem e morrem as flores do campo;
partem e regressam as aves; e tu lês
o livro, como se o tempo tivesse parado,
e o rio não corresse pelos teus olhos.

('Tempo fluvial' de Nuno Júdice, in A a Z)

2 comentários:

  1. Regina Castilho02 julho, 2011

    Excelente escolha. O poema é lindo. Tocante.

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  2. Nuno Júdice é um grande poeta. Usa com sabedoria e elegância as palavras para traduzir quer emoções, quer vivências do dia a dia. A língua portuguesa é matéria prima que usa com mestria e delicadeza.

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