Numa altura de exames para quem anda na escola e de trabalhar arduamente para os que têm a sorte de ter trabalho, este é o poema que não deveria ser escolhido para aqui colocar.
Mas, justamente, porque se chama liberdade e porque devemos ter a capacidade, em qualquer circunstância, de colocar as coisas em perspectiva, não nos levando demasiado a sério, aqui vos deixo do menino Fernando Pessoa que hoje faz 123 anos e que ainda está um jovem, pronto para todas as curvas, um poema a que acho um piadão (embora não corresponda exactamente ao que penso - à semelhança do que se passava com o figurão do Fernandinho, esse fingidor).
Long live Fernando Pessoa.
Esperando por D. Sebastião, vendo o Tejo que corre, sentindo a brisa, no Ginjal |
Ai que prazer
não cumprir um dever,
ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira
sem literatura.
não cumprir um dever,
ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira
sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal,
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
a distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
esperar por D.Sebastião,
quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
flores, música, o luar, e o sol, que peca
só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
é Jesus Cristo,
que não sabia nada de finanças
nem consta que tivesse biblioteca...
(Liberdade de Fernando Pessoa, in Obra Poética I)
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