Digo-te que o sol está a nascer e tu, que mal reparas, vês então que o sol já aí está. Ou digo-te, olha que bonito o sol a pôr-se, e tu dizes que sim.
Coisas banais, todos os dias o sol nasce e se põe mas, para mim, todos os dias isso é um milagre a que, rendida, assisto.
E, se estou junto ao rio, imersa em todo o imenso azul, digo, convertida, meu amor, olha o sol nasceu, ou meu amor o sol está a pôr-se. E fico feliz se tu comprovas que o sol nasceu, que o sol se pôs.
Sei, então, que não estou a sonhar com tão improvável milagre.
Flor de cardo, de um etéreo lilás, na descida para o Ginjal - o Tejo e a Ponte ao fundo |
Disseste: o sol nasceu.
Foi verdadeiramente então que o sol nasceu
e que nos habituámos todos a dizer
que o sol nasceu.
Às vezes pensamos que acontece várias vezes
mas é uma ilusão de óptica que não nos deixa ver
o grande círculo azul em cujo centro
tu dizes eternamente: o sol nasceu.
('Disseste: o sol nasceu', poema de Pedro Tamen in 'Memória indescritível')
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