Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

31 maio, 2011

Um dia em que não há mais passado para contar nem mais futuro para viver

Qual de nós partiu? Qual ficou?

Sabíamos que não haveria futuro e sabíamos que um dia o passado seria esquecido.

Esse dia chegou há muito - e é tão injusto que isso tenha acontecido.

Mas para sempre ficará a casa, o limbo em que apenas nós dois existíamos, em que os nossos corpos gostariam que não anoitecesse.

Há pouco, ao entardecer, no Ginjal

E chega um dia em que reconhecemos
finalmente
a injustiça das palavras -
exactamente as mesmas
para quem vai e para quem fica

um dia
em que não há mais passado para contar
nem mais futuro para viver

apenas uma velha cantiga a embalar
uma casa desaparecida
e este limbo ocasional
onde o corpo
espera que anoiteça


(Poema de Alice Vieira in 'O que dói às aves')

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