Através dos poemas, habito a tua vida tal como tu habitas a minha memória.
O mundo dobrou-se há tanto tempo que já não sei se exististe, se eras mesmo tu ou se te inventei para viveres dentro de mim, sentado à minha frente, sorrindo, olhando para mim.
No cais de Cacilhas, o Tejo ali e Lisboa do outro lado |
Se existisses, serias tu,
talvez um pouco menos exacta,
mas a mesma existência, o mesmo nome, a mesma morada.
Atrás de ti haveria
as mesmas palmeiras, e eu estaria
sentado a teu lado como numa fotografia.
Entretanto dobrar-se-ia o mundo
(o teu mundo: o teu destino, a tua idade)
entre ser e possibilidade,
e eu permaneceria acordado
e em prosa, habitando-te como uma casa
ou uma memória.
talvez um pouco menos exacta,
mas a mesma existência, o mesmo nome, a mesma morada.
Atrás de ti haveria
as mesmas palmeiras, e eu estaria
sentado a teu lado como numa fotografia.
Entretanto dobrar-se-ia o mundo
(o teu mundo: o teu destino, a tua idade)
entre ser e possibilidade,
e eu permaneceria acordado
e em prosa, habitando-te como uma casa
ou uma memória.
Manuel António Pina, in Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança
Belo poema! O seu blogue é muito muito interessante e excelente um meio de divulgação da poesia e da música portuguesa (em português).
ResponderEliminarRetribuo os parabéns
Um abraço
Muito obrigada. Fico sensibilizada com as suas palavras. Amo a língua portuguesa (e fico doente quando a ouço maltratada) e tento, por todos os meios, partilhar este meu gosto.
ResponderEliminarComo há este sítio, o Ginjal, que acho belíssimo e que não me canso de fotografar, porque é um sítio belo embora decadente, e tem o Tejo e tem a melhor vista de Lisboa, lembrei-me de juntar tudo, as fotografias que aqui faço, a poesia, a música. Afortunados nós, portugueses, por termos coisas tão belas para divulgar.
Um abraço.