Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

26 maio, 2011

E eu permaneceria acordado e em prosa, habitando-te como uma casa ou uma memória

Através dos poemas, habito a tua vida tal como tu habitas a minha memória.

O mundo dobrou-se há tanto tempo que já não sei se exististe, se eras mesmo tu ou se te inventei para viveres dentro de mim, sentado à minha frente, sorrindo, olhando para mim.

No cais de Cacilhas, o Tejo ali e Lisboa do outro lado

Se existisses, serias tu,
talvez um pouco menos exacta,
mas a mesma existência, o mesmo nome, a mesma morada.

Atrás de ti haveria
as mesmas palmeiras, e eu estaria
sentado a teu lado como numa fotografia.

Entretanto dobrar-se-ia o mundo
(o teu mundo: o teu destino, a tua idade)
entre ser e possibilidade,

e eu permaneceria acordado
e em prosa, habitando-te como uma casa
ou uma memória.


 
Manuel António Pina, in Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança

2 comentários:

  1. Belo poema! O seu blogue é muito muito interessante e excelente um meio de divulgação da poesia e da música portuguesa (em português).
    Retribuo os parabéns
    Um abraço

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  2. Muito obrigada. Fico sensibilizada com as suas palavras. Amo a língua portuguesa (e fico doente quando a ouço maltratada) e tento, por todos os meios, partilhar este meu gosto.

    Como há este sítio, o Ginjal, que acho belíssimo e que não me canso de fotografar, porque é um sítio belo embora decadente, e tem o Tejo e tem a melhor vista de Lisboa, lembrei-me de juntar tudo, as fotografias que aqui faço, a poesia, a música. Afortunados nós, portugueses, por termos coisas tão belas para divulgar.

    Um abraço.

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