Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

28 dezembro, 2010

Não partas já, fica até onde a noite se dobra e o silêncio recorta o tempo

Jura que não vais ter uma aventura. Jura.
Não partas já.

(Na bilheteira em Cacilhas, decidida a partir)

Não partas já. Fica até onde a noite se dobra
para o lado da cama e o silêncio recorta
as margens do tempo. É aí que os livros
começam devagar e as cores nos cegam
e as mãos fazem de norte na viagem. Parte apenas

quando a manhã se ferir nos espelhos do quarto
em estilhaços de luz; e um feixe de poeiras
rasgar as janelas como uma ave desabrida.
Alguém murmurará então o teu nome, vagamente,
como a gastar os dedos na derradeira página.

E então, sim, parte, para que outra história se
invente mais tarde, quando os pássaros gritarem
à primeira lua e os gatos se deitarem sobre
o muro, de olhos acesos, fingindo que perguntam.

(de Maria do Rosário Pedreira in A Casa e o Cheiro dos Livros)

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