Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

16 novembro, 2010

Nem todo o corpo é carne: no teu, meu amor, existe o mundo todo

Aqui no Ginjal, à beira do Tejo, te digo:
nem todo o corpo é carne, é também água, terra, vento, fogo;
é sobretudo sombra à despedida e onda de pedra em cada reencontro;
e é um fugidio vulto de primavera agora que estamos em pleno outono.
No teu corpo existe o mundo todo.
Eu possa dizer do amor: que não seja imortal, posto que é chama mas que seja infinito enquanto dure.

(Uma tarde num cacilheiro a caminho de Lisboa)

Nem todo o corpo é carne… Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco…?

E o ventre, inconsistente como o lodo?…
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor… Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo…

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono…
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!

(Presídio de David Mourão-Ferreira)

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