Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

28 abril, 2011

Seus olhos estão perigosamente dentro de mim, aqui fizeram morada

Os teus olhos entravam dentro de mim e eu sentia que a tua alma se deitava sobre a minha, abraçadas as duas, a despeito da separação que a vida nos impunha.

Hesitávamos entre estar felizes ou estar tristes, caminhávamos à beira de um abismo, um abismo que nos atraía.

Até que os nossos caminhos se separaram.

No Ginjal, homem só sobre o Tejo, alheio ao arco-íris que se eleva sobre ele

Seus olhos estão perigosamente dentro
de mim
aqui fizeram morada
e estão como Deus
em toda parte
se interpondo
entre a paisagem mais próxima
entre a fresta de luz e a imagem
tangenciando meu olhar
que não sabe olhar puro
que se trai a cada segundo.

Seus olhos estão perigosamente pousados
sobre mim
como borboleta em flor
cobrindo minha pele em ternura
suaves como seda
a farfalhar sobre os poros
e os pelos.
Luzes que incendeiam
em sublime música
meu corpo aceso em sede
Sombras sobre minha noite
embalam meu sono
devassando meus sonhos
onde secretamente me assombram
estando fora e sendo dentro
espelhos de amor intenso
e imenso.

Nossos olhos estão perigosamente
em comunhão
a despeito da separação
que a vida nos impõe.
E nossas vidas
sob risco
entre sermos felizes
ou tristes
e nossos destinos
por um triz
entre sucessos
e desatinos.
Secretamente
espreitamos-nos
como caminhos
à beira
de atraentes abismos.

(Secretamente de Vírginia Schall)

Bernardo Sassetti interpreta Medley "Sonho dos Outros & Promessas"

Compositor, arranjador, pianista, Bernardo Sassetti tem, para além de um grande charme, um irrefutável talento.

Aqui uma pequena amostra da sua arte.

27 abril, 2011

Porque há-de sob a pele o sangue amotinar-se

Foi isto que aconteceu, não foi?

Era para ser só pele. E afinal o sangue agitou-se sob a pele.

Era para ser só pele e, no entanto, de dentro do nosso peito saltou, em tropel, indomável, a nossa alma.

Não era para ser o que foi. Pele e alma expostas, disponíveis.

No Ginjal, ao entardecer, casal passeia em perfeita harmonia

Porque há-de sob a pele o sangue amotinar-se
quando apenas a pele havemos convocado
Mas quanto mais a pele a vemos sem disfarce
mais sob a pele apela o sangue amotinado

Quem nos faz de repente esta rampa temer
da cópula de um dia à cúpula do dia
Porque há-de sob o sangue a alma estremecer
se decretámos nós que ela não existia


('Sob a pele' de David Mourão-Ferreira in 'A arte de amar')

Sergio Godinho interpreta O primeiro dia

Uma grande canção. Para sempre ficará. Sérgio Godinho é um senhor na música portuguesa. Tem talento e tem charme.


A principio é simples, anda-se sózinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

(Letra de 'O primeiro dia' de Sérgio Godinho)

26 abril, 2011

Lugar exausto por não mais se suster do sangue límpido que foste

Toco o vazio e já não te encontro.

E mal encontro aquela que fui.

Tento lembrar-me, aproximo-me, rondo a memória mas já não estás lá.

Apenas encontro o vazio.

Num fim de tarde no Ginjal, estas casas desabitadas iluminam-se no meio de uma escuridão radiosa, o Tejo lento e cúmplice por baixo

Lugar exausto
por não mais se suster
do sangue límpido que foste:

lembro,
             aproximo,
                             rondo,
canto,
          toco esse vazio
para reconhecer-me
na escuridão radiosa
da casa por ti desabitada.


(XXVII 'Lugar exausto', de José Bento, in Sítios, livro quase sagrado)

José Afonso interpreta 'Era um redondo vocábulo' ao vivo no Coliseu

A gravação não é extraordinária, há alguns enganos, o Zeca já a dar mostras de alguma debilidade - mas tudo tão secundário face à genialidade, à humanidade, ao carácter do inigualável José Afonso.

Esta é uma das minhas canções preferidas. É outstanding. Não há nada que se lhe compare, é inusitada. Mas é, também, eterna. Composta em Caxias, enquanto estava preso. Façamos uma vénia: o Zeca vai cantar.


Era um redondo vocábulo
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar,
Pelos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio,
Congregando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança,
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincando e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa

(Letra de 'Era um redondo vocábulo' de Zeca Afonso)

25 abril, 2011

25 de Abril - esta é a madrugada que eu esperava

Esta é a madrugada que eu esperava
o dia inicial e limpo
onde emergimos da noite e do silêncio
e livres habitamos a substância do tempo

('25 de Abril' de Sophia de Mello Breyner Andresen in Obra Poética III)

Pequena gaivota hesita perante o admirável mundo novo

A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida — o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos

Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?

(Os erros, de Sophia de Mello Breyner Andresen in Obra Poética III)

Ritual Tejo interpretam Filhos da Madrugada

Numa altura em que um dos principais agentes do 25 de Abril diz que, se  soubesse como ia correr, não teria feito o 25 de Abril (mas enfim, há que dar algum desconto ao que ele costuma dizer), é importante que todos saibam que, se hoje podemos falar e escrever livremente, ao 25 de Abril o devemos, à revolução que nessa data se operou.

Nessa manhã de todas as esperanças, após muitos anos de obscurantismo, abriram-se os caminhos da democracia.

Por isso hoje é essa data que homenageio e, claro, com uma música da pessoa que, sem dúvida, mais marcou o antes e o depois do 25 de Abril: José Afonso.

Aqui uma interpretação de 1994 pelos Ritual Tejo.


Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praia do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Mensageira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.

(Letra de 'Filhos da Madrugada' de José Afonso)

20 abril, 2011

É verão e o branco de Lisboa não se cansa da brancura

Lisboa, cidade belíssima, cidade que se espraia colina abaixo em direcção ao Tejo, cidade que - como qualquer mulher - não deve ser vista muito de perto ou que, então, deve ser conhecida nos seus melhores recantos.

Cidade belíssima sobretudo no verão, cidade belíssima de cores suaves, de aromas diversos, de aragens suaves, de sons variados.

Ou avistada do outro lado, cidade aquietada na sua reserva, longe mas, afinal, tão perto.

Lisboa, a bela, e o Tejo vistos de Cacilhas

É verão e o branco de Lisboa não se cansa
da brancura, o céu de um azul
pálido e constante, na sombra da esplanada.
Os pedreiros falam alto, num português bruto,
os estrangeiros, que nunca leram Cesário,
louvam o encanto da lota, as raparigas passam,
melhores que qualquer cidade,
enquanto o vento tempera o calor

lembrando que existe um rio.
Mas a sombra é um parêntesis, a brancura
um parêntesis, o próprio vento e as raparigas
uma suspensão no quotidiano
que teima em desintegrar-se,
em resistir à superfície da escrita.
Nesta cidade que tranquilamente
se deixa ficar nas colinas, quem sabe
se à espera, quem pode saber.

(Um belo poema sobre Lisboa, 'Lisboa, Cerca Moura' de Pedro Mexia in Menos por Menos)

Maria Ana Bobone interpreta Fado da Sina

Uma bela voz de fadista, uma boa presença em palco: Maria Ana Bobone interpreta um fado que outros grandes nomes do fado já antes cantaram.


Reza-te a sina
Nas linhas traçadas
Na palma da mão
Que duas vidas
Se encontram cruzadas
No teu coração
Sinal de amargura
De dor e tortura
De esperança perdida
Indício marcado
Amor destroçado
Na linha da vida
E mais te reza
Na linha do amor
Que tens de sofrer
O desencanto
Do leve frescor
Duma outra mulher
Já que a má sorte assim quis
A tua sina te diz
Que até morrer
Terás de ser
Sempre infeliz!...
Não podes fugir
Ao negro fado brutal
Ao teu distino fatal
Que uma má estrela domina
Refrão
Tu podes mentir
As leis do teu coração
Mas ai, quer queiras
Que não
Tens de cumprir a tua sina!...
Cruzando a estrada
Da linha da vida
Traçada na mão
tens uma cruz
A afeição mal contida
Que foi uma ilusão...
Amor que em segredo
Nasceu quase a medo
P'ra teu sofrimento
E foi essa imagem
A grata miragem
Do teu pensamento
E mais te reza
O negro destino
Que tens de amargar
A tua estrela
De brilho divino
Deixou de brilhar
Estrela que Deus te marcou
E que bem pouco brilhou
E cuja luz
Aos pés da cruz
Já se apagou!...

(Letra de Fado da Sina)

19 abril, 2011

Desvio dos teus ombros o lençol, que é feito de ternura amarrotada

Na casa de janelas fechadas, há frescura, há uma sombra que nos aconchega.

E há a nossa urgência, a roupa pelo chão.

E há a nossa ternura, a ternura com que nos tapamos dos outros, a ternura com que o nosso olhar veste a pele um do outro.

Meu terno amor. 

Casal junto ao farol de Cacilhas, o Tejo já ali

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!


(Maravilhoso poema, 'Ternura' de David Mourão-Ferreira, in A arte de amar)

Maria João & Mário Laginha interpretam A Minha Pele

Uma dupla que nos deixou saudades. Maria João e Mário Laginha interpretam em festa uma composição de sua autoria. Momentos felizes.

18 abril, 2011

Corpo num horizonte de água, corpo aberto à lenta embriaguez dos dedos

Há amores assim, que vêm como um veleiro que atravessa o rio, lento, lento, breve, branco.

Há amores assim, como secretas embarcações.

Há amores assim, em que o vento parece sempre favorável mesmo quando é incerta a navegação.

No Tejo, veleiro de nome Amar passa junto ao jardim do Ginjal, Lisboa do outro lado - uma beleza quase excessiva

Corpo num horizonte de água,
corpo aberto
à lenta embriaguez dos dedos,
corpo defendido
pelo fulgor das maçãs,
rendido de colina em colina,
corpo amorosamente humedecido
pelo sol dócil da língua.

Corpo com gosto a erva rasa
de secreto jardim,
corpo onde entro em casa,
corpo onde me deito
para sugar o silêncio,
ouvir
o rumor das espigas,
respirar
a doçura escuríssima das silvas.

Corpo de mil bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito
irrompa das entranhas,
e suba às torres,
e suplique um punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.

Corpo para beber até ao fim -
meu oceano breve
e branco,
minha secreta embarcação,
meu vento favorável,
minha vária, sempre incerta
navegação.


(Belíssimo, belíssimo 'Corpo habitado' de Eugénio de Andrade, na sua fase de fulgor, in Antologia Breve)

Mário Laginha Trio interpreta Valsa nº 2 Op. 34 (photos by Zeev Parush)

Muito bom. Tudo muito bom. O arranjo, a interpretação, o cuidado da imagem do vídeo. Não é uma adaptação de Chopin: é uma recriação com o bom gosto de Mário Laginha, Bernardo Moreira e Alexandre Frazão.

O álbum chama-se Mongrel que é a palavra inglesa para mestiço porque é de mestiçagem sobre a obra de Chopin que esta obra trata. Muito bom, mesmo.

17 abril, 2011

Por um sopro na cinza onde o fogo, de tão breve, fora frio

Às vezes penso em ti e para tão perto de mim te chamo que te sinto, como se estivesses aqui, ao pé de mim, quase sinto o teu afago.

E o teu nome: eu não sabia dizê-lo, lembras-te? E então dizia meu menino, meu amor.

Alguém mais te chama como eu te chamava, alguém mais te olha como eu te olhava?

Em Cacilhas, às portas do Ginjal, alguém deixou calças, tshirt e camisa - vá lá saber-se porquê.

Por um sopro na cinza
onde o fogo, de tão breve, fora frio,
sabemos que estiveste aqui:
um afago vazio
demasiado em ti,
só no verde que a teu nunca levou.

Como o teu nome.
- Quem mais te chamou?

(François, de José Bento in Sítios)

Virgem Suta interpreta Linhas Cruzadas

Agradáveis de ouvir, simpáticos, os Virgem Suta.


Reajo a esse incomodo olhar
Nem quero acreditar
Que vem na minha direção
Há dias que estou a reparar
Nem queres disfarçar
Roubas a minha atenção
Aprecio o teu dom de tornar
Num clique o meu falar
Numa total confusão
Confesso que só de imaginar
Que te vou encontrar
Me sobe à boca o coração

(Refrão)
E falas de ti
E Falas do tempo
Prolongas o momento
De um simples cumprimentar
Falas do dia
Falas da noite
Nem sei que responda
Perdido no teu olhar

É certo que sempre ouvi dizer
Que do querer ao fazer
Vai um enorme esticão
Mas haverá quem possa negar
Que querer é poder
E o nunca é uma invenção
Bem sei que este nosso cruzar
Pode até nem passar
De um capricho sem valor
Mas porque raio hei-de evitar
Se esse teu ar
Me trouxe ao sangue calor

(Refrão)
E falas de ti
E Falas do tempo
Prolongas o momento
De um simples cumprimentar
Falas do dia
Falas da noite
Nem sei que responda
Perdido no teu olhar
(Letra de Linhas Cruzadas, dos Virgem Suta)

14 abril, 2011

Os que avançam de frente para o mar

Nestes dias de míngua, com o País a ficar exangue, é bom ouvir estas sábias palavras de Sophia, remetendo-nos a um tempo das coisas essenciais, a um tempo de bravura.

Bela figura de pescador, no Ginjal, sobre o Tejo no qual passa um veleiro; e Lisboa logo ali

Os que avançam de frente para o mar
e nele enterram como uma aguda faca
a proa negra dos seus barcos
vivem de pouco pão e luar

(Lusitânia, belo poema, quase um aforismo, de Sophia de Mello Breyner Andresen)

Lura interpreta 'Oh Naia'

A musicalidade e a alegria africana na contagiante interpretação de Lura. Adequado aos dias quentes que atravessamos, sabe bem este ritmo para aliviar a tensão desta época de sufoco.


Oh Náia
Kuse ki'n fazeu
Só pamodi n'ba Lisboa
Ma nada n'ka trazeu

A mi n'cumpra tlivison
Ku video ku DVD
Computador pa nha fidjo
Boneca pa nha côdé
Nha dona pidim kelí
Nha pai dja pidim kelá
Nha guenti mó ki'n ta fazi
Sem dinheiro ka ta da
Na frontera: "Senhora tem muito peso
Tem que pagar este excesso"
Dinheiro gó kem ki fla?
N'papia kuel sô na badiu
Minina n'dal sô pa dôdu
Ê fla: "Senhora já viu que
Não tenho o dia todo?"

Oh Náia
Kuse ki'n fazeu
Só pamodi n'ba Lisboa
Ma nada n'ka trazeu
 
(Letra de 'Oh Naia' que tenha pena de não compreender)

13 abril, 2011

Em longo se transforma o breve engano

Quem visse de fora podia dizer que foi um engano. Mas não foi - não foi, pois não?

Nem as nossas palavras foram postas no vento nem o desejo era medo.

Mas é verdade: a esperança é agora mera memória e os nossos pensamentos perdem-se dentro de nós.

E o espelho em que nos vimos já não é espelho, é apenas um vidro.

Mas dentro de mim guardo a nossa imagem, um homem e uma mulher abraçados como se tivessem pela frente um futuro claro, sem mágoas.

Homem solitário no jardim do Ginjal

Em longo se transforma o breve engano,
e o discurso em vento,
e o desejo em medo.
E a esperança
em memória, e o pensamento
em bússula cega
para o mundo.
E em vidro o espelho apaga,
gasto de mágoas e mudanças,
o claro rosto do futuro.

('Em longo se transforma', de Pedro Mexia in 'Menos por Menos')

Couple Coffee (Luanda Cozetti e Norton Daiello) interpretam Balada do Outono

Ando encantada com os Couple Coffee - que sentimento, que musicalidade, que perfeitas interpretações.

E como as canções intemporais de Zeca Afonso ficam bem na voz de Luanda e na música de Norton. E que duo tão interessante eles fazem.

Convido-vos a ver e ouvir - com o coração de preferência (que é como as canções do Zeca devem ser ouvidas). E sugiro aos Couple Coffe que, no fim desta canção, esclareçam quem os ouve que ' vão voltar a cantar'...


Águas passadas do rio
Meu sono vazio
Não vão acordar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar

Águas do rio correndo
Poentes morrendo
P'ras bandas do mar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar

(Letra de Balada de Outono, da autoria de José Afonso)

12 abril, 2011

Partem tão tristes meus olhos, por vós, meu bem

Deveria talvez dizer que os meus olhos estão tristes, tão saudosos de ti, meu bem.

Deveria talvez dizer-te que por ti choram os meus olhos, tão ausentes andam dos teus, meu bem.

Mas não é essa a minha natureza.

A saudade para mim não é doença e não suporto a tristeza por muito tempo.

E quero que em mim penses sempre com alegria, não com tristeza.

Quer-me sempre bem, sabendo que a ti sempre te vou querer bem.

Meu bem.

Partindo de viagem em Cacilhas, a caminho de Lisboa pelo Tejo, sempre majestoso

Senhora, partem tão tristes
meus olhos, por vós, meu bem,
que nunca tão tristes viestes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.


('Cantiga, partindo-se' de João Roiz de Castelo Branco (séc. XV))

Cuca Roseta interpreta Nos teus braços

A graciosidade desta jovem, a limpidez da sua voz, a frescura e sentimento das suas composições, levam-me a dedicar-lhe outro post (apesar de não ter encontrado a letra de 'Nos teus braços' -  e gosto de acompanhar os vídeos das respectivas letras mas fica para uma próxima ocasião).

Convido-vos a ouvir e ver Cuca Roseta.

Uma boca na outra, dois hálitos num só, cada vez reduzem mais o sulco que principia a escoar-se

Hoje quero dizer-te que não esqueço os momentos em que as nossas bocas se uniam, em que a minha carne se completava na tua carne, em que eu sentia a tua pele sobre a minha pele, em que as tuas mãos me percorriam e as minhas te percorriam a ti.
Não esqueço.
Não esqueço a minha mão no teu cabelo.
Não esqueço o teu olhar mergulhado no meu, até que o meu rosto deixava transparecer todos os meus segredos.
Não esqueço as pernas abraçadas, não esqueço os nossos corpos a celebrarem o sentimento que nos unia.

Não sei, hoje, quando voltaremos a ter estrelas para iluminarem a nossa festa, não sei quando completaremos a dança que iniciámos e que nos transformou.

Mas hoje digo-te, uma vez mais: vives dentro de mim.

Cadeira num dos cais do Ginjal, mesmo em cima do Tejo, de frente para Lisboa, a gloriosa

Uma boca na outra, dois hálitos num só,
cada vez reduzem mais o sulco
que principia a escoar-se.
Uma das mãos sustém uma nuca sem peso,
abeira seus cabelos, luz a apagar os ombros;
febril, a outra requesta
curvas ávidas, inquietas, que respondem
à tensão e desordem de um apelo.

Assim as mãos percebem ser a hora
de cumprir o que desejam.
Mas nenhum conhecimento
as persuade a não estremecerem
com a radiação do sangue desvelado,
turbando-as, aplacando-as
na esperança de se apossar do que tenteiam:

os olhos absorvem quanto se lhes oferece
até reconhecerem não ser o bastante
para aplacar o recíproco alvoroço:
cada corpo tem de apurar no outro
a própria claridade.

Nada conspira para refrear
a ascenção de ambos,
com serpeantes olores na sua fala,
as pernas abraçadas, não a travar a sua fuga
mas porque assim se conjugam no voo
e transbordam num só, insaciado.

Os corpos concentram em seu vértice veemente
a premência que atingem para dar-se,
- carne a completar-se em outra carne
numa unidade colhida e laborada:
orvalho ou sortilégio da pele sobre a pele,
ímpeto quase dolorido
a esvair-se e deleitar-se em gomos
sôfregos da quietude prometida
para a celebração que incitam e consumam.

Os segredos de um rosto transparecem
por fim na abundância do outro.

Não sabe nenhum deles se hoje haverá noite,
mas estrelas hão-se acordá-los ao partirem
para na alva recriarem a música sem pauta,
a dança onde completem a viagem
que jamais termina sem nos transformar.

(Poema 29, 'Uma boca na outra', belíssimo, belíssimo poema de José Bento in Sítios)

Pedro Abrunhosa interpreta Tudo o que eu te dou.

Inspirada canção de Pedro Abrunhosa, uma canção de amor, paixão, saudade. Enrolados pelo chão no abraço que se viu: tudo o que eu  te dou, tu me dás a mim.


Eu não sei, que mais posso ser
um dia rei, outro dia sem comer
por vezes forte, coragem de leão
as vezes fraco assim é o coração
eu não sei, que mais te posso dar
um dia jóias noutro dia o luar
gritos de dor, gritos de prazer
que um homem também chora
quando assim tem de ser

Foram tantas as noites sem dormir
tantos quartos de hotel, amar e partir
promessas perdidas escritas no ar
e logo ali eu sei...

(Que) Tudo o que eu te dou
tu me das a mim
tudo o que eu sonhei
tu serás assim
tudo o que eu te dou
tu me das a mim
e tudo o que eu te dou

Sentado na poltrona, beijas-me a pele morena
fazes aqueles truques que aprendeste no cinema
mais peço-te eu, já me sinto a viajar
para, recomeça, faz-me acreditar
"Não", dizes tu, e o teu olhar mentiu
enrolados pelo chão no abraço que se viu
é madrugada ou é alucinação
estrelas de mil cores, ecstasy ou paixão
hum, esse odor, traz tanta saudade
mata-me de amor ou da-me liberdade
deixa-me voar, cantar, adormecer

(Letra de 'Tudo o que eu te dou', composição de Pedro Abrunhosa)

10 abril, 2011

És e renasces como a pura linha do amanhecer

Gostavas de me ver rir, gostavas de me fazer rir, gostavas que eu risse para ti.

E o que me fazias rir...

E o que eu gostava de te ver rir...

E todos dias, nas horas puras do amanhecer, eu me vestia para ti, para que me visses renascida; e, todos os dias, quando o sol se punha, eu me preparava para deslizar até ao dia seguinte.

Confiava em ti e tu confiavas em mim e iríamos até ao fim do dia.

No Ginjal, bem junto ao Tejo, mulher espreita...

És e renasces como a pura linha do amanhecer
e como o sol primeiro és incandescente
rosado de repente e logo a pouco
e pouco cada vez mais rubro e mais intenso
até à amarela gema de ovo que é o sol a pôr-se

Quanto eu não dava    deus     por sempre te ouvir rir
riso tão fresco como tilintar de louça

Não confies em mim    mulher    mas desconfio haver de amar-te
até ao fim do mundo   frase conhecida que me surge


(Excerto de 'Elogio e pranto por uma mulher', de Ruy Belo in 'O tempo das suaves raparigas e outros poemas de amor')

Moreno+2 cantam Só Vendo que Beleza

Uma canção muito bonita aqui interpretada pelo filho de Caetano Veloso, o Moreno Veloso e o seu grupo, canção originalmente cantada pela tia Maria Bethania.


Eu tenho uma casinha lá na Marambaia
Fica na beira da praia, só vendo que beleza
Tem uma trepadeira que na primavera
Fica toda florescida de brinco de princesa
Quando chega o verão eu sento na varanda
Pego meu violão e começo a tocar
O meu moreno que está sempre bem disposto
Senta ao meu lado e começa a cantar

Quando chega a tarde um bando de andorinhas
Voa em revoada fazendo verão
E lá na mata o sabiá gorjeia
Linda melodia pra alegrar meu coração
Às seis horas o sino da capela
Toca as badaladas da Ave-Maria
A lua nasce por detrás da serra
Anunciando que acabou o dia

(Letra da canção 'Só vendo que beleza', muito adequada a um dia como o de hoje, de primavera quente)

06 abril, 2011

Perante a fotografia, arqueava o olhar, enrugando a face em dor sentida

Não gosto de olhar a tua fotografia, não gosto, lembra-me de ti, lembra-me que, de ti, apenas tenho uma fotografia.

Tu nem uma fotografia minhas tens, não quero, quero que me lembres como me lembras e não apenas como uma imagem fixada num papel.

Guarda-me no teu coração tal como eu te guardo no meu coração.

Não quero ser um papel dobrado no bolso.

Não quero que esqueças o meu perfume, o meu cabelo, o meu olhar.

Homem, num fim de tarde, junto ao Tejo, olha Lisboa

Perante a fotografia,
arqueava o olhar,
encolhendo os ombros,
movia-se lento,
enrugando a face
em dor sentida.
Dobrava-a,
voltando a colocá-la no bolso
para uma próxima saudade.
Ainda não a compreendia,
desconhecia-lhe os hábitos
e as formas que tomava.
Sem que
um par de minutos passasse
lá estava ela de novo,
cadente saudade
deixando vazio o bolso.

(Poema do interessante livro '190 minutos aqui' de Patrícia Aguiar)

Couple Coffee interpretam Os Vampiros

Neste dia em que que Portugal teve que ajoelhar, pedindo apoio financeiro para conseguir arcar com as suas responsabilidades, sem saber quem são os vampiros nos dias de hoje (talvez a nossa incompetente classe política), aqui vos deixo hoje a recriação pelos Couple Coffe (Luanda como vocalista) de Os Vampiros, uma das míticas canções de Zeca Afonso.



No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada



Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada


(Letra de Os Vampiros de José Afonso)
No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

    05 abril, 2011

    Invisíveis sombras entre nós a casa as coisas

    A luz traz consigo a sombra.

    Amamos a luz mas às vezes preferimos a sombra.

    Amávamo-nos à luz mas esperávamos que as sombras fossem a nossa casa.

    Olhavamos a luz que nos iluminava, sabendo que a luz nos revelava, nos ocultava nas sombras.

    No Ginjal, ao cair do dia, quando as sombras avançam, homem debruça-se sobre si próprio, sobre o Tejo

    Invisíveis sombras entre nós
    a casa as coisas.
    Invisíveis como a nossa
    visível obstinação.
    Um pouco de luz nos faz pender
    para um dos lados.
    Uma luz que não sabemos.

    Uma luz que invisíveis sombras
    lança
    entre nós a casa as coisas
    e nos faz pender para um lado
    um dos lados
    o lado que não sabemos
    dessa luz que nos conhece.

    (Invisíveis sombras de Pedro Mexia in Senhor Fantasma)

    Joana Amendoeira interpreta Todas as horas são breves

    Uma das novas e mais expressivas vozes do fado português. Aqui um belo fado com letra de Helder Moutinho.



    Todas as horas são breves,
    Todos os dias são horas,
    Todo o amor que me deves
    Aumenta quando demoras.

    Vejo as sombras do desejo
    Que tenho por te encontrar,
    Em cada noite há um beijo
    Que nunca te posso dar.

    Na brisa da tarde calma,
    Onde nasce a Primavera,
    Nasce a dor na minha alma
    P’ra viver à tua espera.

    Sou do monte, sou da serra
    E os teus olhos são do mar,
    È tão longe a minha terra,
    Que não te posso alcançar.

    Quando chegares a sorrir
    Não me tragas compaixão
    Depois terás de partir,
    Partir o meu coração.

    (Letra de 'Todas as horas são breves', da autoria de Helder Moutinho)

    Piso estas tábuas com minhas pernas fortes

    Vias-me quando eu andava, espreitavas-me para me ver andar e eu andava pensando que à minha volta o ar cintilava para que tu soubesses que eu estava a passar, para que me espreitasses.

    Sabes? Ainda hoje, às vezes, imagino que um dia vou voltar a andar para ti, que atravessarei este rio, que pisarei estas águas e que, do outro lado, tu estarás à minha espera, sabendo que isso estava para acontecer.

    No Ginjal, num fim de tarde luminoso, Lisboa, a Bela, ruborizada, um cacilheiro a enfeitar o Tejo, líndissimo o Tejo, e uma imagem surpreendente: uma jovem mulher pescadora.

    Piso estas tábuas com minhas pernas fortes
    exercidas no verdor do mundo
    e pelo mundo;
    e penso
    que o chão cintila
    e só assim me vês.
    Mas não é o meu rasto que desejas,
    é a macieza mesma que navega
    atravessando o negrume
    e a própria procura.

    Piso estas tábuas e rebrilha
    a crença em qualquer coisa que aconteça.

    ('35.Ela:' de Pedro Tamen in Um teatro às escuras)

    04 abril, 2011

    Balla interpretam Saltei de Mim (ao vivo na Antena 3)

    Soft, pop, curioso, aparentemente boa rapaziada, aparentemente com um gosto refinado-espumoso. Pas mal para alguns dias.


    Salta comigo
    por favor
    Não temas o abismo
    Quero entrar sem reservas
    nesse antro de egoísmo
    Prometo que é fácil
    encontrar um pouco mais
    Se o espírito saiu
    O corpo não
    permanece em mim
    A vontade de ficar
    Tu já saiste
    e eu não fui feito para amargar
    Tu sabes não é fácil
    Encontrar um pouco mais

    Saltei de mim
    tem cuidado meu amor
    estás em perigo
    olha que mais um passo
    meu amor
    cais comigo
    vou abusar do teu corpo
    tem cuidado contigo
    para mim eu rendo
    desejo, abrigo

    Salta e sente
    quero entrar
    derepente e não parar
    morro um pouco
    Só depois
    por ver que nada resta os dois

    Saltei de mim
    tem cuidado meu amor
    estás em perigo
    olha que mais um passo
    meu amor
    cais comigo
    vou abusar do teu corpo
    tem cuidado contigo
    para mim eu rendo
    desejo, abrigo

    Saltei de mim
    tem cuidado meu amor
    estás em perigo
    olha que mais um passo
    meu amor
    cais comigo
    vou abusar do teu corpo
    tem cuidado contigo
    para mim eu rendo
    desejo, abrigo

    Saltei de mim...

    (Letra de 'Saltei de mim', desconheço quem é o autor)

    No colo da mãe vai e vem vem e vai balança vai e vem a esperança

    Um poema sobre crianças - a que me apeteceu retirar a parte referente à falta de esperança de se ser português - para aqui assinalar e festejar o nascimento na 5ª feira passada do meu menininho querido.

    Para ele as minhas palavras de esperança, de vontade, de determinação: que seja muito feliz, que seja o que quiser ser apesar das circunstâncias, e que, com a sua felicidade, nos ajude a ser felizes. Bem vindo a este mundo, meu amorzinho.

    No vasto rio, barco à vela desafia os horizontes


    No colo da mãe
    a criança vai e vem
    vem e vai
    balança.
    Nos olhos do pai
    nos olhos da mãe
    vem e vai
    vai e vem
    a esperança.

    Ao sonhado
    futuro
    sorri a mãe
    sorri o pai.
    Maravilhado
    o rosto puro
    da criança
    vai e vem
    vem e vai
    balança.

    De seio a seio
    a criança
    em seu vogar
    ao meio
    do colo-berço
    balança.

    Balança
    como o rimar
    de um verso
    de esperança.

    (Depois quando
    com o tempo
    a criança
    vem crescendo
    vai a esperança
    minguando.
    E ao acabar-se de vez
    fica a exacta medida
    da vida
    de um português.)


    Criança
    portuguesa
    da esperança
    na vida
    faz certeza
    conseguida.
    Só nossa vontade
    alcança
    da esperança
    humana realidade.

    (O menino de Manuel da Fonseca in Poemas para Adriano)

    A vontade e a esperança são nossas. Querer é o importante.

    Homem sobre o Tejo, de frente para Lisboa

    Cristina Branco canta Menino d'oiro

    Hoje, porque quero aqui dar as boas vindas ao meu menino recém-nascido, meu querido bebé, aqui deixo a canção de embalar que há muitos anos canto para os meus amorzinhos e que certamente cantarei também para ele (claro que não tão bem como a Cristina Branco, nada que se pareça...)


    O meu menino é d'oiro
    É d'oiro fino
    Não façam caso que é pequenino
    O meu menino é d'oiro
    D'oiro fagueiro
    Hei-de levá-lo no meu veleiro.
    Venham aves do céu
    Pousar de mansinho
    Por sobre os ombros do meu menino
    Do meu menino, do meu menino
    Venha comigo venham
    Que eu não vou só
    Levo o menino no meu trenó.
    Quantos sonhos ligeiros
    p'ra teu sossego
    Menino avaro não tenhas medo
    Onde fores no teu sonho
    Quero ir contigo
    Menino de oiro sou teu amigo
    Venham altas montanhas
    Ventos do mar
    Que o meu menino
    Nasceu p'r'amar
    Venha comigo venham
    Que eu não vou só
    Levo o menino no meu trenó.
    O meu menino é d'oiro
    É d'oiro é de oiro fino ....
    Venham altas montanhas
    Ventos do mar ....
    (Letra de 'O meu menino é d'oiro', que conhecemos de Zeca Afonso)