Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

19 abril, 2011

Desvio dos teus ombros o lençol, que é feito de ternura amarrotada

Na casa de janelas fechadas, há frescura, há uma sombra que nos aconchega.

E há a nossa urgência, a roupa pelo chão.

E há a nossa ternura, a ternura com que nos tapamos dos outros, a ternura com que o nosso olhar veste a pele um do outro.

Meu terno amor. 

Casal junto ao farol de Cacilhas, o Tejo já ali

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!


(Maravilhoso poema, 'Ternura' de David Mourão-Ferreira, in A arte de amar)

Sem comentários:

Enviar um comentário