Na casa de janelas fechadas, há frescura, há uma sombra que nos aconchega.
E há a nossa urgência, a roupa pelo chão.
E há a nossa ternura, a ternura com que nos tapamos dos outros, a ternura com que o nosso olhar veste a pele um do outro.
Meu terno amor.
Casal junto ao farol de Cacilhas, o Tejo já ali |
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
(Maravilhoso poema, 'Ternura' de David Mourão-Ferreira, in A arte de amar)
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