Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

10 abril, 2011

És e renasces como a pura linha do amanhecer

Gostavas de me ver rir, gostavas de me fazer rir, gostavas que eu risse para ti.

E o que me fazias rir...

E o que eu gostava de te ver rir...

E todos dias, nas horas puras do amanhecer, eu me vestia para ti, para que me visses renascida; e, todos os dias, quando o sol se punha, eu me preparava para deslizar até ao dia seguinte.

Confiava em ti e tu confiavas em mim e iríamos até ao fim do dia.

No Ginjal, bem junto ao Tejo, mulher espreita...

És e renasces como a pura linha do amanhecer
e como o sol primeiro és incandescente
rosado de repente e logo a pouco
e pouco cada vez mais rubro e mais intenso
até à amarela gema de ovo que é o sol a pôr-se

Quanto eu não dava    deus     por sempre te ouvir rir
riso tão fresco como tilintar de louça

Não confies em mim    mulher    mas desconfio haver de amar-te
até ao fim do mundo   frase conhecida que me surge


(Excerto de 'Elogio e pranto por uma mulher', de Ruy Belo in 'O tempo das suaves raparigas e outros poemas de amor')

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