Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

27 abril, 2011

Porque há-de sob a pele o sangue amotinar-se

Foi isto que aconteceu, não foi?

Era para ser só pele. E afinal o sangue agitou-se sob a pele.

Era para ser só pele e, no entanto, de dentro do nosso peito saltou, em tropel, indomável, a nossa alma.

Não era para ser o que foi. Pele e alma expostas, disponíveis.

No Ginjal, ao entardecer, casal passeia em perfeita harmonia

Porque há-de sob a pele o sangue amotinar-se
quando apenas a pele havemos convocado
Mas quanto mais a pele a vemos sem disfarce
mais sob a pele apela o sangue amotinado

Quem nos faz de repente esta rampa temer
da cópula de um dia à cúpula do dia
Porque há-de sob o sangue a alma estremecer
se decretámos nós que ela não existia


('Sob a pele' de David Mourão-Ferreira in 'A arte de amar')

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