Foi isto que aconteceu, não foi?
Era para ser só pele. E afinal o sangue agitou-se sob a pele.
Era para ser só pele e, no entanto, de dentro do nosso peito saltou, em tropel, indomável, a nossa alma.
Não era para ser o que foi. Pele e alma expostas, disponíveis.
No Ginjal, ao entardecer, casal passeia em perfeita harmonia |
Porque há-de sob a pele o sangue amotinar-se
quando apenas a pele havemos convocado
Mas quanto mais a pele a vemos sem disfarce
mais sob a pele apela o sangue amotinado
Quem nos faz de repente esta rampa temer
da cópula de um dia à cúpula do dia
Porque há-de sob o sangue a alma estremecer
se decretámos nós que ela não existia
('Sob a pele' de David Mourão-Ferreira in 'A arte de amar')
Sem comentários:
Enviar um comentário