Vias-me quando eu andava, espreitavas-me para me ver andar e eu andava pensando que à minha volta o ar cintilava para que tu soubesses que eu estava a passar, para que me espreitasses.
Sabes? Ainda hoje, às vezes, imagino que um dia vou voltar a andar para ti, que atravessarei este rio, que pisarei estas águas e que, do outro lado, tu estarás à minha espera, sabendo que isso estava para acontecer.
No Ginjal, num fim de tarde luminoso, Lisboa, a Bela, ruborizada, um cacilheiro a enfeitar o Tejo, líndissimo o Tejo, e uma imagem surpreendente: uma jovem mulher pescadora. |
Piso estas tábuas com minhas pernas fortes
exercidas no verdor do mundo
e pelo mundo;
e penso
que o chão cintila
e só assim me vês.
Mas não é o meu rasto que desejas,
é a macieza mesma que navega
atravessando o negrume
e a própria procura.
Piso estas tábuas e rebrilha
a crença em qualquer coisa que aconteça.
('35.Ela:' de Pedro Tamen in Um teatro às escuras)
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