Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

05 abril, 2011

Piso estas tábuas com minhas pernas fortes

Vias-me quando eu andava, espreitavas-me para me ver andar e eu andava pensando que à minha volta o ar cintilava para que tu soubesses que eu estava a passar, para que me espreitasses.

Sabes? Ainda hoje, às vezes, imagino que um dia vou voltar a andar para ti, que atravessarei este rio, que pisarei estas águas e que, do outro lado, tu estarás à minha espera, sabendo que isso estava para acontecer.

No Ginjal, num fim de tarde luminoso, Lisboa, a Bela, ruborizada, um cacilheiro a enfeitar o Tejo, líndissimo o Tejo, e uma imagem surpreendente: uma jovem mulher pescadora.

Piso estas tábuas com minhas pernas fortes
exercidas no verdor do mundo
e pelo mundo;
e penso
que o chão cintila
e só assim me vês.
Mas não é o meu rasto que desejas,
é a macieza mesma que navega
atravessando o negrume
e a própria procura.

Piso estas tábuas e rebrilha
a crença em qualquer coisa que aconteça.

('35.Ela:' de Pedro Tamen in Um teatro às escuras)

Sem comentários:

Enviar um comentário