Qual de nós partiu? Qual ficou?
Sabíamos que não haveria futuro e sabíamos que um dia o passado seria esquecido.
Esse dia chegou há muito - e é tão injusto que isso tenha acontecido.
Mas para sempre ficará a casa, o limbo em que apenas nós dois existíamos, em que os nossos corpos gostariam que não anoitecesse.
Há pouco, ao entardecer, no Ginjal |
E chega um dia em que reconhecemos
finalmente
a injustiça das palavras -
exactamente as mesmas
para quem vai e para quem fica
um dia
em que não há mais passado para contar
nem mais futuro para viver
apenas uma velha cantiga a embalar
uma casa desaparecida
e este limbo ocasional
onde o corpo
espera que anoiteça
(Poema de Alice Vieira in 'O que dói às aves')