Voa o teu amor à minha volta e as tuas palavras de amor entram na minha respiração e eu sei que depois deslizam nas minhas artérias e vão chegar, aladas, ao meu coração. E encosto-me a ti para sentir o calor do teu corpo, e sou uma gata enamorada que se encosta ao seu dono, que te cheira, que te lambe e tu abraças-me e aqueces-me e não é só o meu corpo que fica quente, é também o meu coração que se abre com o calor dos teus beijos.
Vamos junto ao rio, abraçados, enleados, e não reparamos nos veleiros, nos cais, nas casas de cor esmaecida, nem nos lembramos de ir nas asas das gaivotas, vamos apenas junto ao rio e, a cada instante, o meu corpo procura o teu corpo, meu amo e senhor, e tu procuras o meu e já não sei se este braço que me abraça é meu ou teu e se o coração que bate no meu peito é meu ou teu.
E dizes-me devagarinho, baixinho, que, por mim, atravessarás sem medo qualquer tempestade e que sempre vais chegar e nunca partir e toda eu toda estremeço e me arrepio e peço que me digas mais palavras assim junto ao ouvido, encostado e apaixonado. E sei que mais logo ainda terei o teu cheiro e o teu sabor em mim, e eu não sei se és anjo, se és nuvem, se és rio, se és apenas o meu homem e eu, que tu abraças e beijas, a tua dona.
Mas faz sentido falar de quem é dono de quem quando o amor é doce e é invisível enleio? Rimo-nos. Faz sentido, tudo faz sentido. Tu dono de mim, eu dona de ti, eu e tu donos do mundo, eu e tu inventando conversas sem sentido apenas para escutarmos o amor feito de palavras, estas ou outras quaisquer.
[Chega hoje ao fim a semana de Boccherini e a música de hoje, já abaixo do poema, é linda. E esse poema, um belo poema de amor, a seguir ao casal de namorados é da autoria de uma mulher corajosa e inteira, Maria Teresa Horta]
No Ginjal, amor rente ao Tejo |
Tu és homem e és mulher
sobre o meu corpo
és mar e és rio ao mesmo tempo
és tu e eu misturando o vento
velejando a tempestade
sem ter medo
Tu és calma e turbilhão
nos meus sentidos
és arcanjo e demónio que domina
És aquele que fica
e que parte
que voa no prazer que não termina
['Simultâneo' de Maria Teresa Horta in Poesia Reunida]