Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

25 setembro, 2012

A mãe disse-lhe escreve-me de lá de longe para onde vais


Escuta, menina que te abraças ao teu namorado, escuta. Beija-o, beija-o muito, sente o coração do teu amor nos beijos que recebes, entrega-te toda nos beijos que lhe dás. Respira o ar que vem deste rio magnífico, cobre-te com a poalha dourada que cai dos céus, e sente o momento como uma bênção, uma bênção que para sempre deverás guardar dentro de ti. 

Vive, vive muito, menina. E sê muito feliz em cada instante. Guarda dentro de ti, menina, a beleza de cada momento. Duram tão pouco os momentos, menina. Guarda-os todos dentro de ti.

Um dia vais dizer à tua mãe que vais viver com o teu amor e a tua mãe vai ficar feliz por te ver feliz, por saber que estás a dar os justos passos para construíres a tua vida. Sim, menina, esse dia vai chegar.

Mas, nessa altura, menina, não olhes muito de perto os olhos da tua mãe, não olhes. Deixa-te ficar feliz, leve, inocente, e pega nas tuas roupas, nas tuas pulseiras e fios, nos teus livros, e vai feliz, abraça a tua mãe, abraça-a muito e vai feliz. E quando estiveres a sair, menina, segue em frente, não olhes para trás, não queiras ver as lágrimas nos olhos da tua mãe.



[Abaixo dos namorados rodeados de uma luz acobreada, poderão ver a explicação do sorriso dada por Daniel Faria e, logo a seguir, mais uma bela música de Boccherini. Talvez eu devesse inverter a ordem dos posts para que pudessem ouvir a música enquanto lêem, mas vocês podem corrigir isso.]


Fim de tarde de amor no Ginjal, sobre um rio brilhante, sob um céu em fogo



                                                       A mãe disse-lhe escreve-me
                                                       de lá de longe para onde vais
                                                       E ela disse não é longe casar
                                                       E a mãe sorria cega de dor
                                                       E parecia de deslumbramento


['Explicação do sorriso' de Daniel Faria in Poesia]

4 comentários:

  1. Se eu conseguisse ler este texto sem me comover (sem me lembrar) não era eu...

    Abraço

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    1. jrd,

      No dia em que a minha filha começou a ficar na sua casa, levou as coisas pessoais dela e foi no carro dela e eu fui no meu, com o carro também cheio de coisas. Todo o caminho chorei.

      Com o meu filho foi mais progressivo e custou-me menos. Mas quando ambos se casaram, embora fossem dias de felicidade, voltei a chorar que nem uma madalena.

      E os quartos deles ainda são os quartos deles. Claro que agora já são os pequeninos que lá dormem mas ainda lhes digo que é 'o quarto da mãe' ou 'o quarto do pai'.

      Por isso, quando escrevi o que escrevi, também me lembrei e também me emocionei. Coisas de pais...

      Um abraço, jrd.

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  2. A minha história, quase. O que me salva agora. As recordações de um amor que me fez largar tudo, e ainda existe. Diferente, depurado de paixão, de ilusões, mas maior ainda. O meu amparo, o que resta de uma felicidade, que julguei eterna.
    Estou a escrever frases sem nexo, mas sei que entenderá. Sabe o que ultimamente tenho sofrido. Só esse amor, velhinho de 46 anos, só essas lembranças, me dão ânimo para continuar viva.
    Não consigo dizer mais nada.
    Beijinho
    Mary

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    1. Mary,

      Um amor que resiste ao tempo e que nos acompanha na construção da nossa vida, é um amor que se vai fortalecendo. é bom sentirmos que temos ali ao nosso lado alguém que é o nosso amparo e que nos apoia e compreende.

      Um amor que ainda dura só há 46 anos não é velhinho, é um amor maduro e que ainda tem muitos anos pela frente.

      Espero que o seu namorado consiga acarinhá-la e fazê-la sentir-se bem com o lado bom da vida e encorajá-la a ser feliz com o que tem e a esperar com paciência pelos melhores dias que virão. Virão.

      Um abraço, Mary, com amizade.

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