Não te escondas. Não faças saber que desapareceste. Não vale a pena. Sei-te aí. Ouço a tua respiração. Sinto o calor do teu bafo. Sei-te escondido, espreitando as minhas palavras. Sinto-te.
Quando a noite cai, pressinto os teus passos silenciosos, conheço os teus disfarces.
Gostavas de poder tocar as minhas mãos que escrevem, não digas que não. Gostavas de poder visitar a minha toca e sentir a minha pele e que eu não te visse. Não digas que não.
Querias, talvez, lamber a água salgada com que o meu corpo aceso mostra que não te esquece, querias despir uma e outra alça para que a aragem fresca da tua saudade me aquietasse a alma.
Querias, talvez, que eu me deitasse, rendida, perdida, querias que eu deixasse que as tuas pernas se enleassem nas minhas, que os teus dentes cravassem a minha pele, a minha carne, e, mais fundo, o coração que tantas vezes te neguei. Não digas que não. Não digas.
Abeira-te, lince meu, abeira-te, não tenhas medo, deixa que a minha mão percorra o teu pêlo arisco, deixa que a minha boca sinta as palavras que me escondes, deixa que te puxe para mim e te deite na página branca e silenciosa onde te espero. Vem, lince, lince meu, traz poemas, rimas, traz a pena, traz a seda do teu verbo, conquista-me, vence-me com o teu estranho amor. Lince, lince meu.
O lince da tua boca
deitado no meu poema
bebe o corpo dos meus versos
devora-lhe a alma acesa
Com as pernas puxa e enlaça
a linguagem desvenda
com as garras desce-lhe as alças
aceita a febre descalça
Crava os dentes na sintaxe
lambe devagar as letras
sente a rima onde e enreda
possui a escrita sem pena
Procura a nudez da página
tem um orgasmo de seda
['O lince do meu poema' de Maria Teresa Horta in Poesis]
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Fotografias feitas no Ginjal
Edward Elgar - Salut d'Amour Op.12
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Boa noite! Comecei por ler o outro blogue e olhar aqueles flamingos tão difíceis de fotografar. Li e reli, quando quis comentar não tinha a janelinha para falar consigo e dizer o que pensava. Agora também com o sono esgotei quase por completo. Resta-me dizer que gosto do seu jeito de escrever. Voltarei certamente.
ResponderEliminarAceite um cordial abraço.
Olá Manuel Luís,
EliminarIsto é até vergonha. Só hoje vi o seu comentário. Peço mil desculpas. Obrigada pelo comentário e espero que com esta minha desatenção não tenha resolvido nunca mais me visitar...
Aceito o abraço. Obrigada outra vez!
Olá, UJM
ResponderEliminarTenho visitado o seu outro blogue, mas, não tão amiúde como gostaria.
Queria deixar-lhe uma palavra de apreço, então, aproveito esta janela que deixou aberta.
Já sabe que gosto muito da sua prosa e é sempre com muito prazer que leio o que escreve. Virei aqui as vezes que forem precisas à espreita dessa outra UJM que muito aprecio, não desfazendo da outra, claro. :)
Obrigada pelas palavras que me deixou lá no Xaile.
Beijinhos
Olinda
Olá Olinda,
EliminarSabe que quase me esqueço deste blogue? Com o tempo vou-me concentrando no Jeito Manso. Parece-me que me falta o tempo ou que ando com mais sono. Na volta é aquela coisa de a gente já não ir par anova...
Obrigada pela visita e elas palavras sempre tão simpáticas. É aquele seu traço de afabilidade que está sempre presente no que escreve.
Beijinhos.