Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

14 abril, 2014

Quem fabrica um poema curto morrerá muito mais tarde só depois de estar maduro



Pintura mural numa parede do Ginjal


Quem fabrica um peixe fabrica duas ondas
uma que rebenta floralmente branca à direita
outra à esquerda só com ar lá dentro

e o ouro íngreme puxando o começo da noite
e o fim do enorme dia onde todos morreremos
como filhos escorraçados 
ou disso a que chamam demónio da analogia 

quem fabrica um poema curto morrerá muito mais tarde
só depois de estar maduro

quem baixa a mão para quebrar um selo
há-de baixá-la para quebrar os outros e há-de fechar os olhos

e de tanto ter visto não poderá nunca mais abri-los

e como pão e bebo água de olhos fechados
como se fosse para sempre

e assim adeus a quem vê
que eu morro inteiro para dentro

e vejo tudo só de entendê-lo



Vídeo de Cine Povero - "Quem fabrica um peixe, fabrica duas ondas" de Herberto Helder in «Servidões» dito por Fernando Alves 


com música Arvo Pärt, "Silentium", Parte 2 de «Tabula Rasa»


Fotografado em Petra (Jordânia), em 2010.



2 comentários:

  1. Admiráveis; o poema, a voz, a musica, as imagens e o poste.
    :)

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    1. Obrigada jrd. Gosto muito dos vídeos do Cine Povero. São especiais.

      Um abraço!

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