Abril é chegado. Vem fatigado este mês, o povo de pernas quebradas, o rosto tombado, os cabelos baços, as mãos vazias.
Andaram cinzentos os tempos, chorosos, e das paredes nasceu um bolor triste e dos ossos veio uma dor surda.
Mas é Abril e Abril é Abril e é em Abril que a força renasce, as cabeças se levantam, as pernas se erguem, os punhos se cerram.
É Abril e em Abril os cravos tornam-se vermelhos sangue, e perfumam-se com o cheiro da liberdade e as vozes erguem-se e os corpos, antes cansados, unem-se agora, prontos para cantar. Prontos para amar. E para lutar. Portugal é o nosso país e por ele temos que nos dar.
Lisboa hoje ao pôr do sol |
Que o poema tenha rodas motores alavancas
que seja máquina espectáculo cinema.
Que diga à estátua: sai do caminho que atravancas.
Que seja um autocarro em forma de poema.
Que o poema cante no cimo das chaminés
que se levante e faça o pino em cada praça
que diga quem eu sou e quem tu és
que não seja só mais um que passa.
Que o poema esprema a gema do seu tema
e seja apenas um teorema com dois braços.
Que o poema invente um novo estratagema
para escapar a quem lhe segue os passos.
Que o poema corra salte pule
que seja pulga e faça cócegas ao burguês
que o poema se vista subversivo de ganga azul
e vá explicar numa parede alguns porquês.
Que o poema se meta nos anúncios das cidades
que seja seta sinalização radar
que o poema cante em todas as idades
(que lindo!) no presente e no futuro o verbo amar.
Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde finalmente em Portugal.
Que o poema seja encontro onde era despedida.
Que participe. Comunique. E destrua
para sempre a distância entre a arte e a vida.
Que salte do papel para a página da rua. .
Que seja experimentado muito mais que experimental
que tenha ideias sim mas também pernas
E até se partir uma não faz mal:
antes de muletas que de asas eternas.
Que o poema fique. E que ficando se aplique
A não criar barriga a não usar chinelos.
Que o poema seja um novo Infante Henrique
Voltado para dentro. E sem castelos.
Que o poema vista de domingo cada dia
e atire foguetes para dentro do quotidiano.
Que o poema vista a prosa de poesia
ao menos uma vez em cada ano.
Que o poema faça um poeta de cada
funcionário já farto de funcionar.
Ah que de novo acorde no lusíada
a saudade do novo o desejo de achar.
Que o poema diga o que é preciso
que chegue disfarçado ao pé de ti
e aponte a terra que tu pisas e eu piso.
E que o poema diga: o longe é aqui.
A minha história é simples
ResponderEliminarA tua, meu Amor,
é bem mais simples ainda:
"era uma vez uma flor
nasceu à beira de um Poeta"
Vês como é simples e linda?
(O resto conto depois...
mas tão a sós, tão de manso
que só escutemos os dois).
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Por mim, gosto de pensar que Sebastião estará de braços abertos à sua espera...sessenta anos depois
magnifico...
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