Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

24 março, 2014

Difícil fotografar o silêncio


Um gato no Ginjal - em silêncio
O Tejo e Lisboa já ali


Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim num beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada mais na existência do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Vi um paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim cheguei a Nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.



Poema O Fotógrafo de Manoel de Barros dito por Eduardo Tornaghi


*

Encontrar o silêncio
quando os dias se rasgam
de gritos ácidos
e os ouvidos se enchem
de bandos loucos de palavras vãs.
Encontrar o silêncio
onde a Paz se acolhe
e o vazio se alaga
com sombras brancas.
Silêncio,
quando a angústia se esvai
e o olhar voa
como chama matutina.
Encontrar o Silêncio e morar nele
até que nos encontremos
e um sorriso se abra em nós.



[Silêncio de Joaquim Castilho num comentário abaixo]



4 comentários:

  1. Um belo poema. É difícil fotografar o silêncio, mas mais difícil é ampliá-lo.
    :)

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    1. Olá jrd!

      Sim, é difícil fotografar o silêncio e se eu gosto de fotografias silenciosas. Mas tem razão, difícil mesmo é ampliá-lo e este poema de Manoel de Barros traz o silêncio para o quotidiano e amplia-o até que o sintamos tangível, feitos de palavras belas.

      Um abraço, jrd!

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  2. JOAQUIM CASTILHO25 março, 2014

    Olá UJM

    SILÊNCIO



    Encontrar o silêncio
    quando os dias se rasgam
    de gritos ácidos
    e os ouvidos se enchem
    de bandos loucos de palavras vãs.
    Encontrar o silêncio
    onde a Paz se acolhe
    e o vazio se alaga
    com sombras brancas.
    Silêncio,
    quando a angústia se esvai
    e o olhar voa
    como chama matutina.
    Encontrar o Silêncio e morar nele
    até que nos encontremos
    e um sorriso se abra em nós.


    um abraço

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    1. Olá Joaquim,

      Tão bonito... Já lá coloquei em cima. E que palavras tão verdadeiras, as suas e tão bom que um sorriso se abra depois de termos procurado refúgio dentro de nós.

      Muito obrigada.

      Um abraço.

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