Um gato no Ginjal - em silêncio O Tejo e Lisboa já ali |
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim num beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada mais na existência do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Vi um paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim cheguei a Nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.
Poema O Fotógrafo de Manoel de Barros dito por Eduardo Tornaghi
*
Encontrar o silêncio
quando os dias se rasgam
de gritos ácidos
e os ouvidos se enchem
de bandos loucos de palavras vãs.
Encontrar o silêncio
onde a Paz se acolhe
e o vazio se alaga
com sombras brancas.
Silêncio,
quando a angústia se esvai
e o olhar voa
como chama matutina.
Encontrar o Silêncio e morar nele
até que nos encontremos
e um sorriso se abra em nós.
[Silêncio de Joaquim Castilho num comentário abaixo]
Encontrar o silêncio
quando os dias se rasgam
de gritos ácidos
e os ouvidos se enchem
de bandos loucos de palavras vãs.
Encontrar o silêncio
onde a Paz se acolhe
e o vazio se alaga
com sombras brancas.
Silêncio,
quando a angústia se esvai
e o olhar voa
como chama matutina.
Encontrar o Silêncio e morar nele
até que nos encontremos
e um sorriso se abra em nós.
[Silêncio de Joaquim Castilho num comentário abaixo]
Um belo poema. É difícil fotografar o silêncio, mas mais difícil é ampliá-lo.
ResponderEliminar:)
Olá jrd!
EliminarSim, é difícil fotografar o silêncio e se eu gosto de fotografias silenciosas. Mas tem razão, difícil mesmo é ampliá-lo e este poema de Manoel de Barros traz o silêncio para o quotidiano e amplia-o até que o sintamos tangível, feitos de palavras belas.
Um abraço, jrd!
Olá UJM
ResponderEliminarSILÊNCIO
Encontrar o silêncio
quando os dias se rasgam
de gritos ácidos
e os ouvidos se enchem
de bandos loucos de palavras vãs.
Encontrar o silêncio
onde a Paz se acolhe
e o vazio se alaga
com sombras brancas.
Silêncio,
quando a angústia se esvai
e o olhar voa
como chama matutina.
Encontrar o Silêncio e morar nele
até que nos encontremos
e um sorriso se abra em nós.
um abraço
Olá Joaquim,
EliminarTão bonito... Já lá coloquei em cima. E que palavras tão verdadeiras, as suas e tão bom que um sorriso se abra depois de termos procurado refúgio dentro de nós.
Muito obrigada.
Um abraço.