Quem és tu? Um acaso?
Há muito tempo que as nossas vidas se misturaram, pele com pele, carne com carne, saliva com saliva, todos os nossos fluidos feitos um. O olhar de um espelhado no olhar do outro, as mãos que se procuram, os segredos que se partilham, o futuro que se vai construindo dia a dia. E as zangas, irremediáveis, definitivas, e que, afinal, se esfumam ao primeiro sorriso, ou quando as nossas pernas se procuram no aconchego dos lençóis.
É Fevereiro e chove e está cinzento, mas podia ser Março e haver flores ou Setembro e a temperatura adoçar-se em dourado ou Outubro em fogo, ou Dezembro e o ano a virar. Tanto faria. Todos os dias são dias de pequenas coisas, pequenos gestos, pequenas atenções, coisas de nada. Que afinal é disto que é feito o amor. De pequenos instantes. De não poder passar sem esses pequenos nadas. De sonhos que se constroem a dois, desassossegos que ensombram a luz mas que, a dois, são afastados, e abraços, e beijos, e o desejo, e tudo. E tudo. E nada.
Quem és tu que a vida colocou no meu caminho para assim acompanhares tão de perto a minha caminhada?
No Ginjal num dia de frio e névoa |
Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
toda a espiral das horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento,
a música da chuva nas janelas
sob o frio de fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segreda-me agora uma palavra:
o teu nome - essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração.
Cara UJM,
ResponderEliminaras suas palavras mostram uma forma de falar de amor e das cumplicidades que não se desfazem e se reconstroem em cada armadilha que a vida nos tece.
Vendo bem, o amor é como o silêncio: incomensuráveis, pressentem-se, sentem-se mas não são palpáveis.
Ambos se vivem num êxtase de sentimentos cujos muros não se conseguem desmoronar.
Podem surgir barreiras, mas nada demoverá a sua harmonia.
De mãos eternamente fundidas, o amor e o silêncio emergem do mais profundo da alma e elevam-se num clímax de eterna gratidão, num verdadeiro hino à simbiose dos corações genuínos.
Na conivência desta proximidade, ama-se o silêncio, mas jamais se silenciará o amor.
Felicidades e muita saúde.