Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

20 agosto, 2013

A casa é testemunha - exclamo com toda a vibração dum orgasmo matutino



O sol doura os teus cabelos, a tua pele. Dos teus poros sai um perfume a mulher e tu sorris. E eu aspiro o teu cheiro doce e fêmeo. Levantas os braços, ofereces-te aos meus, e eu agarro o teu corpo macio, as tuas carnes, sinto as tuas coxas, o teu ventre, os teus seios. 

Viajo por entre a folhagem cúmplice e o sol irradia do teu olhar e o meu sexo eleva-se, agradecido, oh céus, que alegria de viver.

A relva é macia e pode ser uma cama suave mas agora apenas quero ter-te nos meus braços, dançar, sentir-te, dança comigo, dança, vamos rodopiar, vamos pelo ar, e as árvores são cortinas e a tua boca está molhada, pronta a saciar a minha sede.

Que dia este, tão de sexo. E a música está dentro dos nossos corpos e tu deixas que eu te pegue, e o teu rosto é o espelho da paz que paira no ar, e o teu corpo é o espelho do desejo que sinto subindo pelo meu corpo.

Dança, dança comigo, deixa que o teu corpo se cole ao meu, deixa que o meu corpo entre no teu. 

E depois vamos lavar-nos no rio, que as águas azuis são frescas e estão habituadas ao suspeito amor matutino, ao soberbo amor clandestino, aos doces requebros dos corpos rendidos. Vem. Vem, dança comigo.



[Ui. E a seguir ao par que dança entre a folhagem suspeita, está o poema que inspirou a dança, um poema de Armando silva Carvalho. Logo depois uma fulgurante entrada directa para a categoria dos grandes intérpretes: Gisela João, a nova Senhora do Fado]


Par dançando no jardim do Ginjal



                                             Um dia tão de sexo.
                                             O sol circunda o corpo e o meu desejo
                                             sobe
                                             e entra na folhagem
                                             suspeita
                                             dos seus olhos.
                                             A luz interior quebra o meu corpo
                                             no mármore do seu rosto.
                                             A casa é testemunha
                                             exclamo
                                             com toda a vibração dum orgasmo
                                             matutino.




                                             [Poema de Armando Silva Carvalho in Canis Dei]

1 comentário:

  1. Cara UJM,
    ora aqui está, mesmo passado o Agosto, um verdadeiro hino à vida, na sua plenitude, descrito em cicios de sensualidade algo libidinosa mas natural e simples. Não há mesquinhez nem falsos sentidos para lá da candura das palavras, cada uma em sua pétala florida de desejos que dançam como corpos enleados e ávidos de prazer.
    A vida é o atrevido alor e esta sensual vibração dos corpos.

    Felicidades e muita saúde.


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