Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

01 outubro, 2013

O portugal futuro - poema de Ruy Belo dito por Mário Viegas sobre música de David Lynch e voz de Chrysta Bell, num belo filme realizado por Cine Povero


Tenho andada um bocado afastada do meu Ginjal e Lisboa. O calor desconcentra-me e, para estar aqui, como gosto de estar, tenho que estar inteira, mergulhada mesmo, e depois deixar que as palavras sigam o seu próprio rumo. Talvez, agora que a chuva voltou, eu consiga retomar a minha assiduidade.

Hoje ainda não são as minhas histórias, as minhas reinterpretações de poemas, os meus voos sem rede.

Hoje é um dos belos filmes do Cine Povero no qual, entre outras fotografias (ver texto abaixo), podem ver-se imagens colhidas pelo próprio realizador no Ginjal. 




Permito-me transcrever o texto que se pode ver junto ao filme:

Quatro estrelas brilham neste vídeo.

(1) "O portugal futuro" (grafado com minúscula no original), poema de Ruy Belo publicado em «Homem de Palavra(s)» (1970). 
(2) A sua declamação por Mário Viegas, em «Poemas de Bibe» (1990), album em parceria com Manuela de Freitas. 
(3) Algumas fotografias (cinco) de um dos maiores fotógrafos de sempre, Henri Cartier-Bresson. 
(4) E o "Polish Poem", escrito por David Lynch e Chrysta Bell e cantado pela última. O vídeo reproduz os últimos versos, com que termina o filme «Inland Empire»: 

"I sing this poem to you
Is this mystery unfolding
As a wing floating?
Something is coming true
The dream of an innocent child...
Something is happening
Something is happening"


POEMA DE RUY BELO

o portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro.

*

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