Talvez seja verdade. Talvez que, com os anos, o amor aumente.
Talvez não: é certo.
Melhor: Com os anos, aumenta a capacidade de amar.
Com os anos, percebe-se melhor a efemeridade das coisas, a transitoriedade de todos de nós. Com os anos, os anos que nos restam vão escasseando, há que não se ser mesquinho no seu uso.
E, se o amor se torna mais tolerante, torna-se também mais urgente.
Quanto ao desejo: esse é sempre o mesmo.
Em Cacilhas, casal conversa sobre o Tejo, mesmo de frente para Lisboa |
o amor aumenta com o amarelecimento do linho
maior quietude rodeia agora a casa lunar
soçobram do fundo dos espelhos submersos os instrumentos
de muitos e delicados trabalhos
repousam sobre a erva para sempre
maior quietude rodeia agora a casa lunar
soçobram do fundo dos espelhos submersos os instrumentos
de muitos e delicados trabalhos
repousam sobre a erva para sempre
só o desejo dalguma eternidade despertaria o terno arado
mas a vida tropeça nos húmidos orgãos da terra
as selvagens flores afligir-te-ão o olhar
por isso inventaremos o necessário ciclo do outono
mas a vida tropeça nos húmidos orgãos da terra
as selvagens flores afligir-te-ão o olhar
por isso inventaremos o necessário ciclo do outono
a noite dilata a viagem
pressentimos a nervosa luta dos corpos contra a velhice
mas nada há a fazer
resta-nos descer com as raízes do castanheiro
até onde se ramificam as primeiras águas e se refaz o desejo
pressentimos a nervosa luta dos corpos contra a velhice
mas nada há a fazer
resta-nos descer com as raízes do castanheiro
até onde se ramificam as primeiras águas e se refaz o desejo
as bocas erguem-se
procuram um rápido beijo no éter da casa
procuram um rápido beijo no éter da casa
('O amor aumenta' de Al Berto in 'Trabalhos do Olhar')
Sem comentários:
Enviar um comentário