Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

10 março, 2011

É um dia em que estou carregado de ti ou de frutos, e tropeço na luz, como um cego, a procurar-te

Estamos em março, daqui a nada em abril. Passam a correr, os meses.

Estou aqui rente ao mar e é contigo estou.

Estou aqui, olho o rio que hoje está cinzento, olho o céu pesado, vejo uma gaivota levantando voo, cruzando os céus, livre, e é com ela que o meu pensamento vai, juntando-se a ti.

Não há sol hoje, o dia está triste.

E eu tropeço de ternura por ti, tropeço em direcção a ti.

No Ginjal, uma gaivota no exacto momento em que levanta voo, rente ao Tejo

É março ou abril?
É um dia de sol
perto do mar,

é um dia em que todo o meu sangue
é orvalho e carícia

De que cor te vestiste?
De madrugada ou limão?
Que nuvens olhas, que colinas
altas,
enquanto afastas o rosto
das palavras que escrevo
de pé, exigindo
o teu amor?

É um dia de maio?
É um dia em que tropeço
no ar
à procura do azul dos teus olhos,
em que a tua voz,
dentro de mim, pergunta,
insiste:
¿Se te fué la melancolía,
amigo mío del alma?

É junho? É setembro?
É um dia em que estou carregado de ti
ou de frutos,
e tropeço na luz, como um cego,
a procurar-te.
(Canção com gaivotas de Bermeo, belíssimo, belíssimo poema de Eugénio de Andrade in Antologia Breve)

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