Vejo-te luminoso quando abres os teus longos braços. Vens puro, falas do mar, do vento dos grandes espaços, falas de amor. O nosso coração bate em uníssono, num ritmo que é só nosso, secreto.
E em cada madrugada te sinto junto a mim, talvez trazido pela brisa marinha.
(Hoje, no Ginjal, num dia de frio cortante, uma gaivota no preciso momento em que levanta voo, sobre o Tejo, para atravessar o vento destes magníficos espaços)
Eras o primeiro dia inteiro e puro
Banhando os horizontes de louvor.
Eras o espírito a falar em cada linha
Eras a madrugada em flor
Entre a brisa marinha.
Eras uma vela bebendo o vento dos espaços
Eras o gesto luminoso de dois braços
Abertos sem limite.
Eras a pureza e a força do mar
Eras o conhecimento pelo amor.
Sonho e presença
de uma vida florindo
Possuída suspensa.
Eras a medida suprema, o cânon eterno
Erguido puro, perfeito e harmonioso
No coração da vida e para além da vida
No coração dos ritmos secretos.
(Apolo Musageta de Sophia de Mello Breyner Andresen, um poema luminoso neste dia cinzento)
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