Escuta.
Não te aproximes. Não sabes o perigo que corres. Fica aí, longe de mim, mantém-te em terra segura. Afasta-te. Não tentes saber de mim, nem tentes ver-me, nem tentes espreitar-me nem que seja apenas através das palavras que escrevo.
Tem cuidado. Não corras riscos, não te aproximes do calor, não te arrisques que o fogo é abismo do qual não deves acercar-te, nunca, nunca.
Não sabes que há um certo animal traiçoeiro, bicho calado que espera pelo momento em que a caça não vai conseguir escapar-lhe, bicho que atrai à sua teia quem vem sem cuidados, bicho de quem deves manter-te distante?
Escuta o meu conselho. Pára por aí, recua, esquece. É que, se deres mais um passo, um só que seja, vais correr o risco de ficar aprisonado, atraído pelo fogo de um olhar que nunca pousará em ti, e tu preso, preso até ao fim dos tempos, preso à invisível teia do que nunca será recíproco e tu para sempre preso, para sempre. Por isso, foge, foge, foge de mim.
No entanto, sinto-te aí, sinto a tua respiração, sinto o bater do teu coração, sinto a tua inocente vontade em abeirares-te, sinto-te, sinto-te tão perigosamente perto. Apesar do silêncio que paira entre nós, apesar da distância, apesar de não usar o teu nome nem tu o meu, apesar de nos desconhecermos, apesar de tudo, sinto-te aí, junto a mim, tão junto, tão, tão perto de mim. E isso é tão perigoso. Saberás quanto? Diz-me: não sabes que há riscos que não se podem correr?
Olha, ouve-me, foge de mim antes que a teia que nos separa se desfie e que para sempre chores o que nunca conseguiste nem conseguirás alcançar.
Foge, doido, foge.
Cuidado. O amor
é um pequeno animal
desprevenido, uma teia
que se desfia
pouco a pouco. Guardo
silêncio
para que possam ouvi-lo
desfazer-se.
[de Casimiro de Brito]
"lábios
ResponderEliminarfundem-se em
(c)alma sôfrega,
sondas
envoltas de
luxúria
discreta na tua
boca como se
fosse(s) a
última."