O silêncio envolve-me e eu, nua, deixo que se revelem os meus secretos impossíveis, essa estranha conjugação de impossíveis que, de repente, se torna desmando, tropel sem comando. Descarados, insolentes impossíveis uivam, cantam, voam.
Querem levar-me não sei para onde. Serão lobos, serão bardos, serão espíritos cadentes, pássaros que arrastam as asas em terra. Não sei.
No vazio da noite, sente-se, em volta da gruta, o bafo quente de presenças múltiplas, múltiplos os nomes. As palavras vibram e o silêncio que me envolve teima em despir-me. E eu não quero. Não, não e não. O pudor a guardar a virtude.
E sinto que lá fora os lobos, afinal um só lobo, tenta afogar o pudor deixando cair o nome, todos os nomes, à porta da gruta silenciosa.
Para que uma só coisa
vibre
na sua presença nua
para além da conjunção dos possíveis
é preciso que o silêncio a dispa
e o seu nome seja o seu próprio pudor
[De António Ramos Rosa in 'A intacta ferida']
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Como é bom de ver fiz as fotografias no Ginjal
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