Não digo o teu nome. É um segredo só meu. Mas ele vive, letra a letra, impresso no meu coração. É um nome que quase escondo de mim, que esqueço, que soletro em silêncio. Soletro só para mim, sem saber porquê. Mas fico-me pela primeira letra, logo as outras abafadas pelas lonjuras da noite, aturdidas pela luz branca da lua lá tão distante.
O teu nome chega-me como num sonho, nas asas brancas de um grande pássaro que vem do lado de lá do rio, que traz o sal das praias do sul, o sol da praça luminosa onde me perco pensando em ti.
O teu nome mistura-se com o meu, unidos, apaixonados, abraçados, abraçados, o teu nome levanta o meu no ar, o teu nome faz o meu voar.
O teu nome tem transparências e cores dentro, tem palavras muito leves, feitas de um ar muito puro, tem cores suaves, notas de música, asas de anjos brancos, de borboletas azuis, de flores cor de rosa, desenhos de amor, pétalas, saudades, acordes feitos de harmonia e luz.
O teu nome tem mãos cheias de paz, tem um olhar que me faz sorrir, tem uma ternura que me beija. O teu nome é meu, vive em mim, dorme comigo, habita os meus sonhos, debruça-se sobre mim, afasta o cabelo do meu rosto, acaricia o meu despertar, deixa doces alvoradas nas minhas manhãs. Traz serenidade às minhas noites.
O teu nome vive guardado dentro de mim.
Muitos anos depois foi o teu nome
que veio ter comigo.
A casa está agora cheia de palavras
onde o teu nome ecoa. Falam de ti
os livros, os quadros nas paredes,
os pequenos ruídos da noite.
O teu nome é um pássaro, um gato
que ronrona, um comboio
que atravessa os campos da memória.
Está em toda a parte o teu nome.
Paris, Zurique, Amesterdão, Madrid
são cidades da linha to teu nome.
Eu chamo-me o teu nome, chama
onde me aqueço e esqueço
tudo o que estava antes de ti.
Com as letras do teu nome escrevo
sal e sol, procuro o sul, azul
é a bandeira do teu nome.
No teu nome viajo, no teu nome regresso,
sou rio, mar, deserto,
um cravo de Abril, uma canção de Brel,
sou tudo isso às portas do teu nome.
['O teu nome' de Manuel Alberto Valente in 'poesia reunida - o pouco que sobrou de quase nada']
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As fotografias foram feitas no Ginjal
Jacques Brel interpreta Quand on n'a que l'amour
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