Abandono numa manhã fria no Ginjal. Lisboa do outro lado. |
A expressão é um diamante bem lapidado que transcendeu o "apertar do cinto", expressão que sobreviveu não sei como à miséria real do Estado Novo. Espero que passe à reforma, porque se a língua não muda, o povo estagna, ou vice-versa.
Agora ninguém aperta o cinto, até porque a comida de segunda, rápida, obriga a alargá-lo. Agora faz-se um downsizing, ou seja, não se compra cherne fresco ao sábado: vai-se à secção de congelados do Jumbo e manda-se cortar uma perca do Nilo em postas finas duras. Cherne fresco era viver acima das nossas possibilidades, e que interessa que os pescadores não vendam?! O europeu do Norte não gosta de nos ver comer peixe fresco do alto. Um carapau, uma sardinha, vá. Downsizing do lifestyle significa, na prática, continuar a ser os pretos claros dos brancos do norte, como no passado outros foram os nossos pretos, porque não nos interessava que fossem mais do que isso. A história repete-se com diferentes protagonistas, mas essencialmente é sempre isto: quem manda e quem é mandado; quem pode e quem não pode.
[Excerto de 'Downsizing do lifestyle', texto de Isabela Figueiredo no seu Novo Mundo Perfeito]
O europeu do norte só come bratwurst. Nada percebe de peixe.
ResponderEliminar:)
Há qualquer coisa de triste em tudo isto. Especialmente quando a verdade não passa por nada disto. O que se passou foi o enfranquecimento da economia portuguesa, a dependência de empréstimos bancários, a banca toda já encalacrada, endividada no estrangeiro, os bancos a verem que iam ficar a arder e a cortarem-se, aumentando os juros, e depois a imposição de cortes nos rendimentos das pessoas para serem desviados para pagar a dívida aos bancos estrangeiros.
EliminarNada disto tem a ver com cherne em vez de carapaus, plasmas em vez de televisão antiga, férias em vez de idas à Costa da Caparica.
Mas os mais prejudicados ainda acabarão por ser os maiores apoiantes do governo. Tão facilmente manipuláveis...