Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

25 outubro, 2013

A eternidade do instante, nua, eu a faço tua.


Por esta ponte passámos ambos a caminho do calor partilhado, da pele com pele, da luz nos nossos corpos, do mar nos nossos poros. 

Lambias-me. 

Sabes a sal. 
- Mas como se ainda não fui ao mar? 
Sabes a açúcar. 
- Mas como se ainda não estou madura? 

Depois aventuravas-te. 

É tão doce o teu sumo
- Então não o bebas todo, que ainda te faz mal.

Ríamo-nos os dois, brincando na areia, como animais sem dono, sem moral, sem lei. Tudo podíamos. 

Agora a ponte não vai dar a lado nenhum, já o sabemos, uma sabedoria que a erosão do tempo nos ensinou. Mas, agora, cada pequeno instante nosso é eterno e nós seguramo-lo com cuidado para que ele contenha toda a memória do passado e todos os sonhos do futuro. E eu enrosco-me toda na curva da tua mão, para sempre tua, intocada, nua.



[Uma vez mais a Poetisa Joana Lapa sobre quem ainda não consegui formar opinião. A seguir, voltamos a ter jazz com Donny McCaslin ]


A Caparica



                                                O fruto da luz, extasiado,
                                                dádiva do espaço,
                                                o meu corpo extenso e revelado,
                                                o seu ouro, intocada magia,
                                                os traços que deixou na areia,
                                                o esplendor do sol ao meio-dia,
                                                eu tos ofereço.
                                                A eternidade do instante, nua,
                                                eu a faço tua.



['Eternidade da beleza' de Joana Lapa in 'Lettera Amorosa']

*

nde pára???
Onde paira a gaivota mais bela que conheço? perguntaste
Não sei
Enquanto andámos arredados
e nas falésias do sul comparavas cada gaivota empoleirada
com a gaivota do Ginjal
cansou
e atravessou a ponte
com aquele porte que dizias não haver igual

A altivez da gaivota do Ginjal partiu com dignidade
cansada como nós
de acreditar
que destes nossos mares
ainda nascerá peixe
para alimentar a multidão entristecida

partiu
cansada de esperar
que
(de novo)
do alto da montanha
alguém MULTIPLIQUE
e depois DIVIDA



[Poema de Era uma Vez num comentário aqui abaixo]

4 comentários:

  1. Era uma vez25 outubro, 2013


    Onde pára???
    Onde paira a gaivota mais bela que conheço? perguntaste
    Não sei
    Enquanto andámos arredados
    e nas falésias do sul comparavas cada gaivota empoleirada
    com a gaivota do Ginjal
    cansou
    e atravessou a ponte
    com aquele porte que dizias não haver igual

    A altivez da gaivota do Ginjal partiu com dignidade
    cansada como nós
    de acreditar
    que destes nossos mares
    ainda nascerá peixe
    para alimentar a multidão entristecida

    partiu
    cansada de esperar
    que
    (de novo)
    do alto da montanha
    alguém MULTIPLIQUE
    e depois DIVIDA

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    1. Olá Erinha,

      Que bom ter aqui uma gaivota trazida por si. Fiquei mesmo contente por ter encontrado aqui as suas palavras.

      Já lá está em cima, claro.

      Muito obrigada.

      Um abraço.

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  2. ERA UMA VEZ26 outubro, 2013


    É verdade. O meu marido adorava a gaivota que durante meses representou o Ginjal. Dizia que tinha uma grande atitude.

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  3. Já me fartei de rir com essa da 'atitude' da gaivota. Era isso mesmo. Nunca tinha pensado nisso mas acho graça à expressão, agora acho que lhe fica a matar.

    Mas ela não partiu de vez, foi só ali pregar para outra freguesia e um dia destes, quando o ar estiver menos poluido, talvez volte. Não tenho é cães por ali, senão soltava os cachorros a ver se davam uma corrida em osso a um certo coelho mal cheiroso que por aí anda a desgraçar a vida das pessoas.

    Beijinhos, Erinha! E um abraço ao seu marido!

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