O sol doura os teus cabelos, a tua pele. Dos teus poros sai um perfume a mulher e tu sorris. E eu aspiro o teu cheiro doce e fêmeo. Levantas os braços, ofereces-te aos meus, e eu agarro o teu corpo macio, as tuas carnes, sinto as tuas coxas, o teu ventre, os teus seios.
Viajo por entre a folhagem cúmplice e o sol irradia do teu olhar e o meu sexo eleva-se, agradecido, oh céus, que alegria de viver.
A relva é macia e pode ser uma cama suave mas agora apenas quero ter-te nos meus braços, dançar, sentir-te, dança comigo, dança, vamos rodopiar, vamos pelo ar, e as árvores são cortinas e a tua boca está molhada, pronta a saciar a minha sede.
Que dia este, tão de sexo. E a música está dentro dos nossos corpos e tu deixas que eu te pegue, e o teu rosto é o espelho da paz que paira no ar, e o teu corpo é o espelho do desejo que sinto subindo pelo meu corpo.
Dança, dança comigo, deixa que o teu corpo se cole ao meu, deixa que o meu corpo entre no teu.
E depois vamos lavar-nos no rio, que as águas azuis são frescas e estão habituadas ao suspeito amor matutino, ao soberbo amor clandestino, aos doces requebros dos corpos rendidos. Vem. Vem, dança comigo.
[Ui. E a seguir ao par que dança entre a folhagem suspeita, está o poema que inspirou a dança, um poema de Armando silva Carvalho. Logo depois uma fulgurante entrada directa para a categoria dos grandes intérpretes: Gisela João, a nova Senhora do Fado]
Par dançando no jardim do Ginjal |
Um dia tão de sexo.
O sol circunda o corpo e o meu desejo
sobe
e entra na folhagem
suspeita
dos seus olhos.
A luz interior quebra o meu corpo
no mármore do seu rosto.
A casa é testemunha
exclamo
com toda a vibração dum orgasmo
matutino.
[Poema de Armando Silva Carvalho in Canis Dei]