Parecem longínquos os tempos em que tudo me parecia possível, previsível, bom.
Eu era outra talvez. Ou o mundo era outro, não sei.
Também não sei qual o meu papel na mudança do mundo ou mesmo na minha própria mudança.
Não sei identificar o momento em que nos perdemos de nós. Tem sido esta a nossa história: esperançados, valentes, heróicos, felizes e, pouco tempo depois, perdidos do futuro, desencontrados de nós.
Eu era outra talvez. Ou o mundo era outro, não sei.
Também não sei qual o meu papel na mudança do mundo ou mesmo na minha própria mudança.
Não sei identificar o momento em que nos perdemos de nós. Tem sido esta a nossa história: esperançados, valentes, heróicos, felizes e, pouco tempo depois, perdidos do futuro, desencontrados de nós.
Houve tempos em que as pessoas cantavam, eram os cantos livres, e acreditava-se que o povo unido jamais seria vencido. Assim, nesses sonhos, nos perdemos, nos deixámos vencer.
Enquanto cantávamos, crentes, felizes, o mundo reorganizava-se na sombra. As larvas cresciam.
Íamos renegando uns, que não eram dos nossos, queríamos um tempo novo, muito novo, queríamos tantas coisas na nossa inocência. Não percebemos o que estávamos a fazer, não vimos o que estava a acontecer.
Enquanto cantávamos, crentes, felizes, o mundo reorganizava-se na sombra. As larvas cresciam.
Íamos renegando uns, que não eram dos nossos, queríamos um tempo novo, muito novo, queríamos tantas coisas na nossa inocência. Não percebemos o que estávamos a fazer, não vimos o que estava a acontecer.
Os vermes invadiram a cidade, todas as cidades. Comem a carne dos corpos ainda vivos. São execráveis, amorais. Não são como as pessoas normais. Vivem de se alimentarem, protegerem-se, e reproduzir-se. Nada mais. E nós, pobres inocentes, no nosso silêncio de inocentes, nada dizemos, nada podemos.
Hoje os sonhos parecem pássaros tombados, as penas inertes voando, inúteis.
Hoje os sonhos parecem pássaros tombados, as penas inertes voando, inúteis.
Antes, vocês talvez ainda se lembrem, eu sentava-me a olhar o rio e sentia-me parte do incessante movimento das suas águas.
Depois, mais tarde, passei a sentar-me, em silêncio, tentando perceber para onde iam as águas se eu não saía do mesmo lugar.
Depois, mais tarde, passei a sentar-me, em silêncio, tentando perceber para onde iam as águas se eu não saía do mesmo lugar.
Agora, de longe, apenas vejo a cadeira onde me sentava. Nela talvez esteja ainda a minha alma desolada, sem voz, sem sonhos. Ou nem isso. Não sei. Perdi-me deles.
[Abaixo da cadeira vazia rente ao rio, um poema de uma mulher que pela primeira vez aqui vem espreitar o Ginjal, falar-me de silêncio: Irene Lisboa. Logo abaixo, um grande intérprete, o arménio Tigran Hamasyan interpretando 'What the waves brought'.]
Cadeira junto ao Tejo, na longa e estreita rua do Ginjal |
São tudo cantos,
tudo cantos
e ninguém tem voz.
São tudo vozes e silêncio.
É o tempo.
E é uma alma,
que eu já não tenho,
que não possuo,
que me trai,
e me não abandona.
Eu tenho tudo,
tenho tudo
e não tenho nada.
São tudo cantos
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