Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

01 julho, 2013

A tentação fita-me como um gato


Ah os teus olhos que me tentam, me desafiam, me desequilibram, ah os teus olhos nus, impúdicos, maliciosos. Sorris com ar de quem me está a imaginar nua, de quem sabe, de antemão, que me vou desnudar para ti. Malandro. Convencido. Olhas-me e derrubas-me com o teu olhar vadio, arriscas, ah se arriscas. 

Arriscas tanto. Olha se eu me viro a ti... Quem te diz que o não farei? Sabes lá se não te vou arranhar todo?

Mas arriscas, gostas de arriscar, a tua carne gosta de me tentar.

Passas a língua indecente ao de leve pelos lábios, e olhas-me lentamente, e não sei se sabes que eu tenho tanta dificuldade em resistir a tentações... Espreitas-me o decote e nem disfarças, espreitas-me as pernas e queres que eu veja que me espreitas, guloso, olhos gulosos, lábios gulosos e vejo que o teu corpo todo se levanta para me desafiares ainda melhor. Que descarado, que descarado.

E eu, pobre gata, inocente gata, ingénua, inocente, coquette, olho-te com olhos de menina. E finjo que sou uma menina assustada, uma gatinha inexperiente, temerosa, e finjo que não quero que te aproximes, e deixo que me olhes como se tivesses que vencer o meu pudor. Eu, gatinha, faço de conta que receio esses impúdicos avanços, gatinha de olhos límpidos e virgens. Mas deixo que te aproximes, deixo que me espreites, que me tentes. Deixo, deixo, tu sabes que deixo, mas sabes que eu gosto que me tentes, malandro, vadio.

Ah o que eu gosto de uma boa tentação... Sou uma gata vadia, sabes.




[Abaixo da gata do Ginjal, uma nova Poetisa: Marta Chaves. Boas descobertas as que me estão a aparecer debaixo destes Telhados de Vidro. A seguir a raça de Pavel Sporcl interpretando Tchaikovsky]


Uma gatinha no Ginjal



                                                  A tentação fita-me como um gato.
                                                  Desses que não gostamos
                                                  de ver passear nos parapeitos
                                                  num desafio de gravidade
                                                  que nos parece desnecessário e arriscado,
                                                  embora alto e corajoso.


['Guarda-Mor' de Marta Chaves in Telhados de Vidro, nº 18]


4 comentários:

  1. Cara UJM,
    Este seu desafio aos sentimentos felinos faz-me lembrar o velho e curioso Nakata no belíssimo livro de Haruki Murakami, “Kafka à beira-mar”. Li o ano transacto e adorei. O velho tinha o dom especial de falar com os gatos e procurava safá-los dum maluco qualquer que os matava.
    Acho que seria um prazer conseguir alimentar um diálogo com gatos. Os marotos fitam-nos e parecem transmitir-nos mensagens só com os olhos e a mímica caudal. O que eles deveriam transmitir-nos se nos entendêssemos.

    Em casa, neste momento, tenho quatro gatos adultos e quatro “do S. João”. Maioria brancos e para oferecer. Às vezes ponho-me a ver a minha neta de 12 anos, a melhor amiga desses bichanos, a falar sozinha com eles e a ameigá-los. Parece que eles até a entendem, e lá me vem à memória o velho Nakata e agora a UJM que mantém cumplicidades com os mesmos bichos.

    Felicidades, ao som dos mios e ronrons dos bichanos

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  2. dbo,

    Miau...

    E, sem mais, felicidades e saúdes também para si!

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  3. Gata coquette! :))

    Por aqui as coisas vão correndo bem. Obrigada pelas palavras de incentivo.

    Bj

    Olinda

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    Respostas
    1. Olinda,

      Tento distrair-me desta treta em que a nossa política se tem vindo a transformar... Se calhar a isto chama-se alienação.

      Ainda bem que a recuperação vai de vento em popa. Nada de abusar... Beijinhos e tente aproveitar o descanso (tente fazer de conta que não é forçado...).

      Beijinhos e rápidas melhoras!!!!!!!!

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