Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

05 maio, 2013

Aflora-nos por fim o regresso inteiro


E, então, onde pensávamos haver só decadência, eis que a vida aparece, subtil, quase imaterial, luminosa...!

E, vendo-a, surpreendemo-nos: é resistente e é milagrosa e é incompreensível. E, quando se pensa que é palpável, ela voa, e pousa, transparente, onde ninguém a alcança.

De onde veio a semente que imprevistamente se fixa, de onde o alimento que prende esta improvável e frágil vida à vida?

De onde a força que a prende se a raiz flutua mais leve que o ar, mais leve que o voo grácil da ave branca?

É, então, este o eterno regresso, a reinvenção, a ressurreição...

Em baixo pode correr um rio caprichoso, em cima podem correr nuvens ariscas ou brilhar um sol intenso. Numa casa em ruínas se fixa esta vida que é anterior à vida, anterior aos tempos e que a eles sobreviverá porque é eterna, porque habita espaços infinitos, porque é mais forte que o coração frágil dos homens.



[Abaixo da aparentemente frágil flor, poderão encontrar mais um poema de Maria Andresen e, a seguir, dou início a uma série dedicada à música do Mali. É uma música que começo agora a descobrir pela mão de um Leitor que, generosamente, ma fez chegar e a quem muito agradeço]


Uma flor no topo de um edifício em ruínas no Ginjal



                                       Aflora-nos por fim o regresso inteiro ao
                                       esquecimento anterior mesmo à sua ausência

                                       O olhar táctil é no branco que se move e
                                       não tem raiz no tempo: comemora
                                       o ser-isento, o ser justamente

                                       Porque o certo e inumano nos bate com o sol
                                       filtrado pelo tempo em cuja casa vive
                                       em cujo curso se move


                                       [Poema de Maria Andresen in 'Livro das Passagens'


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