E, então, onde pensávamos haver só decadência, eis que a vida aparece, subtil, quase imaterial, luminosa...!
E, vendo-a, surpreendemo-nos: é resistente e é milagrosa e é incompreensível. E, quando se pensa que é palpável, ela voa, e pousa, transparente, onde ninguém a alcança.
De onde veio a semente que imprevistamente se fixa, de onde o alimento que prende esta improvável e frágil vida à vida?
De onde a força que a prende se a raiz flutua mais leve que o ar, mais leve que o voo grácil da ave branca?
É, então, este o eterno regresso, a reinvenção, a ressurreição...
Em baixo pode correr um rio caprichoso, em cima podem correr nuvens ariscas ou brilhar um sol intenso. Numa casa em ruínas se fixa esta vida que é anterior à vida, anterior aos tempos e que a eles sobreviverá porque é eterna, porque habita espaços infinitos, porque é mais forte que o coração frágil dos homens.
[Abaixo da aparentemente frágil flor, poderão encontrar mais um poema de Maria Andresen e, a seguir, dou início a uma série dedicada à música do Mali. É uma música que começo agora a descobrir pela mão de um Leitor que, generosamente, ma fez chegar e a quem muito agradeço]
Uma flor no topo de um edifício em ruínas no Ginjal |
Aflora-nos por fim o regresso inteiro ao
esquecimento anterior mesmo à sua ausência
O olhar táctil é no branco que se move e
não tem raiz no tempo: comemora
o ser-isento, o ser justamente
Porque o certo e inumano nos bate com o sol
filtrado pelo tempo em cuja casa vive
em cujo curso se move
[Poema de Maria Andresen in 'Livro das Passagens'
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