Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

04 fevereiro, 2013

frases longas com reticências no final


Longos são os caminhos que nos conduzem pela vida fora. Frases simples, palavras soltas, reticências, coisas do acaso - longos são os caminhos.

Um diz, outro silencia a medo, outro arrisca, uma teme, outra desafia, e assim, sem roteiro nem marcações, a conversa se desfia, os acasos se sucedem, os encontros acontecem ou, sem que ninguém o perceba, a vida segue por linhas que nunca se encontrarão.

E há labirintos, jardins proibidos, tentadores bosques, misteriosas grutas no fundo do mar e há quem nunca os percorra ou quem se perca sem jamais alcançar a saída.

Longos e incertos são os caminhos. Longos e incertos.

Começa a semana e a esperança nasce, depois os dias avançam e nada, nada acontece e a fé, aos poucos, esmorece. Entre pontos e vírgulas, reticências, falsas exclamações, a vida vai avançando. Outras vezes fica pelo caminho, adormecida, suavemente embalada pelo medo.



[Abaixo do poema de José Alexandre Caldas Ribeiro, poeta cuja poesia por vezes desconcertante me agrada bastante, continuamos com Sviatoslav Richter, um grande intérprete de piano.]


Saindo do Ginjal



                                                        frases longas
                                                        com reticências no final
                                                        ditas às segundas-feiras
                                                        chegam para toda a semana
                                                        ao sábado e domingo
                                                        palavras suaves
                                                        para adormecer o medo


[Poema de 1986 da pág 22 de José Alexandre Caldas Ribeiro in 'A água que nos move']

4 comentários:


  1. É a vida aqui descrita em poucas palavras e de forma muito poética. Há caminhos que nunca se cruzam, outros que se cruzam e deixam no ar um sabor de palavras desejadas e nunca ditas. Se tivessem sido ditas, teriam feito a diferença, com ou sem reticências...

    Beijinhos

    Olinda

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    1. É uma coisa que me interessa muito: a forma como o acaso (muitas vezes sem que nos apercebamos de tal) ou as pequenas reticências moldam as nossas vidas.

      Podemos hesitar e calar e a pessoa a quem nos queríamos dirigir nem se aperceber: e a vida separa-se por aí quando, se fosse vencido esse pequeno temor, a vida poderia ter seguir um outro rumo.

      Um beijinho!

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  2. Gostei muito do poema, mas o que me tocou mesmo fundo foi o seu belíssimo texto, tão sensível, tão tristemente verdadeiro...

    Sorry, I'm still feeling blue...

    Ah, mas com o lindo dia de sol que aí vem logo já vou estar melhor!

    Abreijos,

    antonieta

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    1. Olá Antonieta,

      Já passou a manhã, a tarde, a noite já vai alta... ou seja, acho que já deu tempo mais que suficiente para se pôr animada. Ou não...?

      A ver se hoje desencanto um poema que dê para a paródia para ver se a ponho bem disposta. O drama é que não há muitos poemas assim e eu também não sei se estou para aí virada.

      Vou à procura a ver no que dá.

      Um beijinho e cheer up girl!

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