Chega o dia e limpamos a noite que se nos colou à pele. Tão boa a noite quando os nossos corpos se juntam contra o frio que nos chega da rua.
Abro as cortinas para que o luar banhe os nossos corpos e tu percorres com os teus dedos as geografias onde o luar se acolhe no meu corpo. Eu sou da lua e gosto que o luar entre nos meus poros, acaricie os meus seios, as minhas pernas. E tu gostas de sentir o luar no calor da minha pele.
E eu dispo-te também e, em ti, o luar esconde-se ou és tu que, sôfrego, devoras a luz branca e suave da lua. Percorro-te também com os dedos, depois com os lábios, com a língua. Beijo o luar que pousou no teu corpo insubmisso.
Afastas o cabelo do meu rosto, queres ver como te olho quando o luar une os nossos corpos. Olho-te e há paz no meu olhar e há paz também no teu. A noite envolve-nos, dá-nos casa, e nós abrigamo-nos um no outro, tu dentro de mim, abrigado, apaziguado, eu dentro do teu coração.
E depois a lua desfaz-se e mil estrelas descem sobre nós.
E tu perguntas-me, também viste as estrelas? e eu sorrio e digo, já sabes que gosto de ficar a ouvir o silêncio, não me faças perguntas. Sorris e eu gosto de te ver sorrir.
Mas eis que o dia chegou. Trouxeste-me para a beira do rio. Vem ver a grande cidade, vem ver o rio, vem respirar a largueza deste lugar. E eu sigo-te, quero que me mostres tudo mas, com malícia, peço-te cuidado, não deixes que as estrelas que guardaste nos bolsos voem para longe. Quero vê-las, de novo, logo à noite.
Sorris, finges que estás cansado. Quem é que falou em paz...?!, pareces queixar-te Mas eu sei que brincas, que mal vais poder esperar que o luar se estenda de novo sobre a nossa cama.
[Abaixo de um poema de Manuel Alegre, um Poeta com assento cativo aqui no Ginjal, mais uma grande interpretação de Yo-Yo Ma, desta vez uma interpretação bem imprevista: Piazzollla. Espero que gostem]
De frente para Lisboa |
Nós fomos noite e noite até ser dia
nós fomos noite e a noite fomos nós
fomos a noite e os corpos e esses nós
com que a noite se atava e desfazia
Fomos a noite e o que sobrava dela
e o que sobrava dela foram luas
que circulam à volta de uma estrela
ora nas minhas mãos ora nas tuas
['Nós' de Manuel Alegre in 'Nada está escrito']
*
E quantos vezes tu foste cometa
deixando rastos de luz breve passagem
meus olhos rasos de chuva nas estrelas
(sonhando) quis ir contigo na viagem
[Poema de 'Era uma Vez' num comentário aqui abaixo]
E quantos vezes tu foste cometa
ResponderEliminardeixando rastos de luz breve passagem
meus olhos rasos de chuva nas estrelas
(sonhando)quis ir contigo na viagem
Olá Erinha,
EliminarO poema voou lá para cima, levado por um cometa.
As minhas palavras são mais lentas e só hoje estou a responder aos comentários aqui no Ginjal.
Muito obrigada, gostei muito, as suas palavras estão sempre cheias de luz.
beijinhos!
À noite não há nós para quando ela e ele dizem nós...
ResponderEliminar:)
Nem mais, jrd. E se os houver, não há nós que eles não desatem. :)
EliminarUm abraço!