E se um dia atravessasses a beira do velho casario, andasses pelos muros, roçasses a beira do caminho com o teu desamor, se desperdiçasses a carícia da aragem, e se, apenas, apenas, caminhasses como quem caminha para um destino que não existe?
A humidade fresca e luminosa que sobe do rio rasga as lembranças daquele que sonha sozinho e que desenha palavras num pensamento que abandona a beira do rio.
Não é um deserto, não é, mas ele não vê quem mergulhe as mãos no calor das suas entranhas, quem sopre segredos envoltos em carícias. Não é um deserto mas é como se fosse.
Estivesse por aqui aquela que um dia respirou o ar que ele respirou, dissesse as palavras que ele, em silêncio, pensou, procurasse o corpo que um dia a visitou - e ele pousaria as defesas, entregaria o desamor, aceitaria os seios que viessem pousar nas suas mãos.
Mas, pensa, e se um dia o desejo que sobe no interior do teu corpo exige que recolhas as reservas e busques aquela que um dia desapareceu e que espera que, um dia, a chames?
... E se um dia...? E se esse dia for hoje?
Pensa nisso.
Eu estou à espera.
[Abaixo de mais um poema de António Ramos Rosa, um novo momento feliz e que feliz é: Martinho da Vila encanta Katia Guerreiro]
Praias do Ginjal em dia de acalmia no Tejo |
Talvez seja o momento de.
Mesmo sem esperança. E ele escreve:
nenhum impulso para ti
neste espaço deserto.
Ele perscruta entre as pedras e as sombras.
Nada vê. Ignora. Olha.
Que traços são estes,
qual a origem destas palavras nulas?
Ele escreve. O seu desejo é o desejo
de tornar habitável o deserto.
['O momento de' de António Ramos Rosa in Antologia Poética]
*
Teu peito
cofre de afectos
de medos, de sonhos,
de memórias,
escondido, enterrado
sob as tuas colinas brandas
onde é doce adormecer.
E eu
Que me embalo
Adormecido
No silêncio do teu carinho
No aconchego manso
Do teu regaço
Tu que me ofereces
A tua sombra
E te repousas
No meu cansaço.
E eu
Em ti.
[Poema de Joaquim Castilho em comentário aqui baixo]
Olá UJM!
ResponderEliminarBelíssimo o seu dorido texto!
Dá-me licença que a acompanhe?
Teu peito
cofre de afectos
de medos, de sonhos,
de memórias,
escondido, enterrado
sob as tuas colinas brandas
onde é doce adormecer.
E eu
Que me embalo
Adormecido
No silêncio do teu carinho
No aconchego manso
Do teu regaço
Tu que me ofereces
A tua sombra
E te repousas
No meu cansaço.
E eu
Em ti.
um abraço
Olá Joaquim,
EliminarMuito obrigada pelas suas palavras e pelo seu belo poema que tão bem, tão galantemente, acompanha as minhas palavras.
Já coloquei o poema lá em cima onde fica tão bem.
Um texto e um poema como dois oásis...
ResponderEliminar:)
jrd,
EliminarE as suas palavras que bem me sabem. Muito obrigada.
Um abraço.