Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

19 outubro, 2012

No dia da morte de Manuel António Pina - Um dia será ele quem nos dará a mão


Hoje, uma vez mais, Manuel António Pina visita o Ginjal e Lisboa. É a décima sexta vez. E muitas mais vezes contarei com a suave presença dele, aqui ao meu e ao vosso lado.

A sua voz límpida, que é a voz pura de um homem livre e bom, é-me indispensável. As palavras de Manuel António Pina traçam caminhos de luz que abrem o meu caminho, que me levam pela mão. Espero que ele nunca se canse de mim. 

Neste dia em que a notícia da sua morte me encheu de tristeza, às pessoas que, tal como eu, se sentem iluminadas com a sua poesia, deixo aqui a promessa de, na fraca medida das minhas possibilidades, deixar de vez em quando aqui um poema seu que para mim será como uma vela que tentarei manter acesa, para que as suas palavras iluminem o Ginjal e Lisboa, iluminem as nossas vidas.

Até sempre, querido Poeta.



No Ginjal, homem silencioso caminha à frente dos meus passos



                                   Há nisto um sentido insone, um habitante silencioso
                                   caminhando à frente dos nossos passos,
                                   dormindo na cama a nosso lado,
                                   comemos a sua comida, as nossas próprias palavras não nos pertencem;

                                   uma casa dentro de uma casa,
                                   uma coisa viva e palpável como a morada de um cego
                                   tocando-nos levemente com receio de acordar-nos.

                                   Um dia será ele quem nos dará a mão
                                   e nos conduzirá por passagens interiores
                                   para dentro de casa,
                                   onde há tanto tempo cansadamente esperamos.


['Talvez de noite', 3, de Manuel António Pina in 'Todas as palavras']

4 comentários:

  1. ERA UMA VEZ20 outubro, 2012

    Quando parte um poeta
    há um altar para os versos que deixou
    (eu acredito)

    É um lugar sagrado
    onde se veneram as palavras
    e se perfumam de incenso renovado
    as sílabas
    a tristeza
    o sentido
    as emoções
    elevadas ao expoente sublimado
    "daqueles que se vão da morte libertando"
    mais palavras, sábias palavras de Camões.

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  2. Bonita e sentida homenagem.
    Abraco

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  3. Talvez Manuel António Pinho, tenha morrido de doença, como dizem. Talvez tenha morrido de pena, do estado a que chegámos. A sua alma sensível e doce, não aguentou este marasmo em que vivemos.
    Quem não sente, às vezes, vontade de morrer? O mundo está demasiado feio para os poetas.
    Mary

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  4. A Todos,

    Agradeço as vossas palavras.

    Não respondo individualmente porque deixei acumular muitos comentários e mails e agora não tenho tempo para responder a cada um. Mas sabem como me custa ter que passar por cima das palavras que gosto dirigir a cada um.

    As minhas desculpas.

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