Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

13 maio, 2012

Tenho as coisas escritas no peito, o teu nome


Onde estás? Onde estás?

Chamo-te, grito por ti, a todos pergunto se sabem por onde andas, procuro-te, corro todos os caminhos, espreito, e não estás em lado nenhum. Deixo sinais, avisos, súplicas. Nada. Não habitas já dentro das fronteiras do meu mundo. Saíste. E eu não sei nada de ti.

Onde estás?

Procuro-te nas sombras de outros homens, procuro-te nas vozes que se perdem no ar, procuro-te nos olhares que vagueiam pelo horizonte, procuro-te por todo o lado, no meio de todas as multidões, mas não te encontro.

Procuro-te num cheiro quente que atravessa o ar, procuro-te numa certa forma de andar, procuro-te num certo descair da cabeça, procuro-te e já nem sei onde te procurar mais porque nunca vejo de ti nem sequer ténues sinais.

Onde estás? Onde estás, meu amor, onde estás?

Tu eras a minha casa, o meu sonho, o meu destino. Sem ti percorro sozinha, desamparada, os caminhos da vida. Falta-me tanto o teu sorriso macio, e o teu braço em torno de mim, e a tua voz secreta no meu ouvido, e a tua mão atrevida a subir a minha perna, e os teus lábios ávidos percorrendo o meu corpo. Fazes-me tanta falta. 

Onde estás?

Porque acreditaste quando te disse que nunca mais te queria ver, porque acreditaste quando te disse que te fecharia todas as portas?  Porque te foste embora quando te substituí por outro homem? 

Devias ter lutado, lutado, lutado, devias, devias. Vem, luta, luta por mim porque é a ti, só a ti que eu quero.

Onde estás agora? Onde?



[Abaixo o belo poema de Inês Fonseca Santos diz melhor que eu o que é ter inscrito na marca genética o amor por outra pessoa. E, logo a seguir, Pavarotti traz-nos o Elisir d'Amore para abrir a semana dedicada a Donizetti]


No topo da escada de onde se vê o esplendor do Tejo e de Lisboa e
que não leva a nenhum outro lugar que não, apenas, a estar mais próximo do céu


                                        Tenho as coisas escritas
                                        no peito, o teu nome. Nada tem que ver
                                        com o coração, muito menos com sentimentos.
                                        O teu nome está-me escrito nos sinais, sobre a pele.
                                        A tinta, desenhos de círculos castanhos
                                        assinalando lugares.

                                        O meu mapa genético tem uma única localidade.
                                        Dizer o nome dela é chamar-te.
                                        Chamar-te é encontrar a minha morada.



                                        ['As coisas escritas' de Inês Fonseca Santos in 'As coisas']
                                 

2 comentários:

  1. Cara UJM:

    Belas palavras tristes!

    abraço amigo
    E dias felizes
    Luísa

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    1. Olá Luísa,

      Palavras tristes ou um rebate de consciência ou um arrependimento ou uma coisa assim. Ou talvez apenas a influência do poema da Inês Fonseca Santos. Às vezes os poemas metem-se dentro de mim, é como se os tivesse administrado por via endovenosa.

      Um abraço Luísa e dias felizes também para si.

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