Na quinta feira à tarde, alguém viu um homem voar de cima dos penhascos. É o que se sabe.
Diz a família que estaria a tirar fotografias para um livro que iria sair. Dos penhascos do Guincho, em tarde de mar bravo, voou um ser abençoado. Mas, nesse momento, os deuses estavam a dormir, no momento em que mais precisaria das asas, elas mantiveram-se fechadas.
Custa a acreditar mas dizem que a família já reconheceu o corpo do homem que voou, dizem que pertencia a Bernardo Sassetti.
Dizem - ou digo eu - que a sua alma voa agora entre nós. E, para sempre, voará entre nós, como uma aragem suave, como uma toada que dança com o vento.
Num dia em que se soube que mais um ser abençoado nos abandona, Ginjal num momento de grande desolação, o Tejo parado, o céu suspenso - há ausências que custam muito |
Muitas vezes me pergunto quando vem.
Não sei ao certo como será
nem como ou quem
anunciará
essa noite essa luz esse momento
Chegará como chega o vento.
['Momento' de Manuel Alegre in 'Nada está escrito']
Não sei ao certo como será
nem como ou quem
anunciará
essa noite essa luz esse momento
Chegará como chega o vento.
['Momento' de Manuel Alegre in 'Nada está escrito']
Bernardo Sassetti - Alice
Bernardo Sassetti - Contigo em la Distancia
. Descansa em paz .
Amiga:
ResponderEliminarOuço Alice
E leio Beatriz.
Olho o Ginjal, parece-me deserto.
E foi no mar, no mar ali tão perto
Que desapareceu alguém, que foi feliz.
Adeus Bernardo, menino cheio de talento e simpatia. Força Beatriz, tens duas meninas e mil lembranças.
Beijinho, amiga
Mary
Mary, olá,
EliminarQue bonitas palavras escreveu, Mary. Ontem antes de anoitecer estava um calor parado e o Ginjal estava assim, este ar de ausência. Ou então era eu que estava cheia de pena. Aqui no Ginjal, já tinha posto a música do Bernardo talvez umas quatro vezes, ele era 'cá de casa'.
As suas palavras sentidas são umas belas palavras de despedida, Mary.
Um beijinho, querida Mary.
Cara UJM:
ResponderEliminarDeixou-me comovida com o seu Tejo deserto e vazio e as bonitas palavras para uma sentida homenagem a que me associo.
“Os deuses levam cedo os que amam”. Dão-lhes, porém, a juventude eterna na memória dos admiradores. Fica a música sublime que nos eleva e nos redime.
Abraço amigo
Luísa
Pois é Luísa, partem cedo, não envelhecem, não adoecem, não assistem à decadência do seu corpo. Guardamo-los assim, jovens, cheios de vida, cabelo a voar, sorriso, têmpera. Mas foi cedo demais. Ele tinha dentro dele demasiado talento para uma vida tão curta.
EliminarMas aconteceu, nada a fazer. Infelizmente.
Um abraço, Luísa.
bela fotografia do ginjal abandonado ao lado do rio. talvez em veneza tambem haja zonas assim, longe da cidade praticavel que conhecemos.
ResponderEliminarÀs vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
.....................................
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço ... mas nada a fazer
.......................................
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
................................?
ruy belo
presumo que tanto manuel alegre como r b falam do mesmo, embora de modo diferente, do momento que um dia chegará como chegou a bernardo sassetti. ruy belo sem duvida que sim, fala desse momento, m a talvez mas não necessariamente.
lembro-me que uma tarde seria de agosto ou setembro de 1977 ia caminhando pela avenida de berna e quando cheguei à esquina do quarteirão junto à igreja vi um grupo de pessoas entre os quais um amigo meu. Perguntei-lhe que estava ali a fazer naquele grupo e respondeu-me que ruy belo tinha morrido, estava a ser velado na igreja e que dentro em pouco ia sair o funeral dele.
reflexões e coisas que vêm a propósito da morte de sassetti, de ruy belo, do poema momento de manuel alegre que interpreto como falando desse momento mas pode não ser, da rua deserta de casas abandonadas do ginjal, etc.
Caro Patrício Branco,
ResponderEliminarGostei tanto de ler o que escreveu. Que belo poema esse que aqui recordou de Ruy Belo, poeta de que também gosto tanto. Morreu o Ruy Belo mas as palavras vivem ainda junto de nós e isso é um facto.
De qualquer maneira, que coisa tramada é esta da morte. Sabemos todos que ninguém cá fica mas é sempre uma perda, um desgosto. Quando são pessoas como o Bernardo Sassetti que partiu tão cedo, de forma tão inesperada, sabendo nós que, sendo tão exuberantemente talentoso, teria ainda tanto para nos dar, a pena ainda é maior e é, até, uma pena egoísta. Ficará a sua música, a recordação do seu talento mas é uma pena.
O Ginjal ontem estava assim, parado, dormente, o rio completamente silencioso. Parecia que tudo aquilo chamava as lágrimas.
Entrei, triste.
ResponderEliminarSentei-me um pouco,
como em banco de igreja.
Saí, ainda mais.
J. Rodrigues Dias
Caro José Rodrigues Dias,
EliminarPois, eu estava triste quando escrevi este post.
Mas o seu comentário ontem lá no UJM espevitou-me, fez-me ver que tal como a terra-mãe se recria, também nós deveremos fazê-lo.
Por isso, ontem depois de ler o seu comentário (tal como já o referi na resposta a um dos comentários de hoje), escolhi dois poemas, duas fotografias, uma música e uma dança que pretendiam passar da tristeza à alegria. E foi por inspiração das suas palavras (e porque andar 6 horas a amanhar a terra é obra e isso é honrar a natureza e a vida).
Por isso, obrigada.