Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

25 janeiro, 2012

E aí estaria o amor em estado de pura nudez


Dizes-me meias palavras que apenas eu percebo, fazes um meio sorriso que apenas eu vejo, inclinas a cabeça e eu vejo um gesto de carinho que mais ninguém vê.

E eu pisco-te o olho sem que mais ninguém veja, e deito-te a língua de fora quando mais ninguém está a olhar e roço a perna na tua e mais ninguém percebe.

Depois, à noite, na cama, os dois juntamos palavras nuas e acendemos o candeeiro para que a luz banhe a prova do nosso amor, um poema puro que é só nosso.



[As palavras são de cumplicidade e festa e pedem um capricho em violino - siga pois, a seguir ao Rui Caeiro, encontrará a cintilação de Paganini.]

Avistadas do Jardim do Ginjal, iluminadas pela luz da manhã,
velas brancas sobre uma mancha contínua de azul
(a ponte Vasco da Gama ao fundo)


                            Um poema de amor que ninguém            
                            tivesse feito e só um merecesse
                            e só o outro entendesse

                            E aí estaria ele o amor
                            em estado de pura nudez
                            litográfica à século das luzes


                            (Poema de Rui Caeiro in 'O quarto azul e outros poemas')

+++++

Por me agradar sobremaneira, puxo aqui, ao palco dos poetas, o poema que, muito generosamente, o poeta abaixo mencionado aqui me deixou na caixa de comentários.


Margens


Eram margens que ali se viam

E que uma à outra se sentiam

Por baixo do ondular 
Do discreto mar…



Eram margens nas matinas se amando 

Escondidas em neblinas de azuis 

À luz de velas brancas 
Esquecidas no mar…




José Rodrigues Dias


(Nota ao autor: aparece um pouco desformatado e não consigo repor a formatação original. As minhas desculpas)

6 comentários:

  1. Margens

    Eram margens que ali se viam
    E que uma à outra se sentiam
    Por baixo do ondular
    Do discreto mar…

    Eram margens nas matinas se amando
    Escondidas em neblinas de azuis
    À luz de velas brancas
    Esquecidas no mar…

    José Rodrigues Dias

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  2. uma imagem da exclusividade, deve ser isso o amor, algo entre dois e ninguem mais

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  3. Caro José Rodrigues Dias,

    Quanto eu gostei deste seu poema, que surpresa agradável dar com ele...!

    Tanto gostei que o puxei para a página, espero que não se importe.

    Muito obrigada, muito sinceramente.

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  4. Caro Patrício Branco,

    Hoje foi o meu dia das surpresas boas. Que contente fiquei de o rever por aqui.

    Tem toda a razão, o amor só tem a ganhar com a cumplicidade, com a empatia solidária e desinteressada, com afinidades privadas (para além de companheirismos, solidariedades, etc, que podem e devem ser públicos e notórios).

    Obrigada pela visita e pelas palavras!

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  5. Cara UJM:

    Agradeço-lhe muito o destaque. Gosto de escrever sobre certas fotografias. Poderei usar esta sua para juntar ao poema, um dia destes, nos "Traçados sobre nós", com um link de identificação?
    Obrigado,
    J. Rodrigues Dias

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  6. Caro J. Rodrigues Dias,

    Claro que pode, à vontade, é um orgulho para mim. Fico muito contente.

    E bom sábado!

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