Não voltarei. Nem tu. Acabou e ambos sabemos que foi de vez. Mas foi um fogo extraordinário o que nos envolveu, não foi? Sabia-nos tão bem, éramos tão felizes, éramos tão livres na nossa efémera paixão.
Sabia-nos tão bem, dava-nos tamanha calma, sonhávamos tanto, andávamos alegres como jovens namorados. E eram tão bons os nossos beijos, beijos conquistados, beijos escondidos.
Já consigo falar disto, destas doces recordações, destas recordações que jamais esquecerei.
[E a seguir, depois de passar pelo poema, desça um pouco mais para ouvir uma outra mulher cantando Hija mia - conversa de mulheres, cântigos íntimos]
Em Cacilhas, junto ao Tejo, tapete azul, tão pertinho de Lisboa, a Bela |
Não volto, não. Isto acabou e foi de vez.
Atleta de uma única vontade,
não quero mais prender-me novamente
no fumo de uma triste combustão
em que eu andei...
Sabe-me bem viver, - ser livre, enfim!
Já sei falar de coisas esquecidas.
Fui ontem ao cinema.
Sentei-me, calmo, à noite, num jardim.
Beijei uma mulher
sem perguntar quem era...
- Agora, dou por mim.
(Poema de António Botto in 'Poemas com cinema')
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