Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

09 outubro, 2011

A minha vida é assim - verde, sentada. Tocando para baixo as raízes da eternidade.


Estou aqui, sentada, tranquila à beira deste rio que tanto amo. As minhas raízes estão aqui, na beira da água, dentro da água. Alimento-me da maresia, da aragem, do azul, do espaço. Por isso os meus pensamentos mergulham nas águas, voam nas asas das grandes aves.

Estou aqui e espero, espero. O tempo espera também. Desfruto lentamente os sentimentos, recordo as doces recordações, sonho com doces futuros.

Penso em sorrisos, penso em palavras de amor, penso num olhar que me afaga, penso em mãos que me percorrem com vagar, penso em mãos sempre disponíveis.

Os homens têm mais pressa, têm uma voracidade impaciente. Mas sossegam quando aprendem que o amor é bom quando há tempo para vivê-lo. É a um homem assim que eu espero quando me sento aqui, ao sol, olhando o azul.

Eu, talvez pela idade que tenho, sei que o tempo espera por aqueles que o sabem usar, por aqueles que deixam que as suas raízes mergulhem fundo no mar e as suas asas se levantam para voar livres pelos largos espaços, espera pelos amantes que sabem que os beijos são eternos, que as doces lembranças são eternas.


[A seguir ao Herberto, vamos andando os dois, está bem? Vamos até ali abaixo que há jazz, a fantástica Eureka Brass Band está à nossa espera para começar]

Mulher sentada à beira do Tejo, no Cais do Sodré


           A minha idade é assim - verde, sentada.
           Tocando para baixo as raízes da eternidade.
           Um grande número de meses sem muitas saídas,
           soando
           estreitos sinos, mudando em cores mergulhadas.
           A minha idade espera, enquanto abre
           os seus cndeeiros. Idade
           de uma voracidade masculina.
           Cega.
           Parada.
           Algumas mãos fixam-se à sua volta.

          
           (Excerto de 'Ou o poema contínuo' de Herberto Helder)

Sem comentários:

Enviar um comentário